Vale a pena bater no ceguinho
Antes do 25 de Abril de 1974 o único bispo que discordou da ditadura foi António Ferreira Gomes, bispo do Porto. Sofreu dez anos de exílio e foi a excepção que confirmou a regra de uma Igreja comprometida com a ditadura, silenciosa perante as prisões arbitrárias, alheada do degredo, da tortura e dos assassinatos que a ditadura cometeu contra o povo português..
Depois de Abril, a ICAR tolerou a democracia, apesar da azia que apoquentou os bispos que viram muitos padres trocar o múnus pelo tálamo conjugal, optar pelo Kamasutra em vez da Bíblia, abandonar as pessoas da Santíssima Trindade por uma única mulher.
Hoje pode dizer-se que a Igreja tem uma postura civilizada, com excepção no que diz respeito à defesa e ampliação dos privilégios que a pusilanimidade dos governantes consente. Interfere nas leis que dizem respeito à família, vai buscar à gamela do orçamento o ordenado dos capelães militares e hospitalares, os vencimentos dos professores de religião católica e o dinheiro necessário à reparação dos estabelecimentos comerciais, designados igrejas.
Desde 1975 que nenhum outro bispo ameaçou com a «heresia e as penas do inferno» quem não votasse no CDS como o fez o bispo de Braga, Francisco Maria da Silva. Não consta que a Igreja tenha voltado a comprometer-se com o terrorismo depois de extintos o MDLP e o ELP. Até o bondoso cónego Eduardo Melo se entregou mais ao Sporting de Braga e à saudade que tem por «esse grande estadista» que pensa ter sido Salazar.
Mas os bispos não podem ignorar as palavras do paladino da liberdade que foi o Cardeal Ratzinger, que usa agora o pseudónimo de Bento XVI: «O cristão é uma pessoa simples» e «os bispos devem defender esta gente sincera dos intelectuais».
É por isso que em Timor é mais fácil cumprir a vontade de Deus. Ximenes Belo proibiu o uso dos contraceptivos. Agora, Alberto Ricardo da Silva e Basílio do Nascimento, bispos de Díli e Baucau, respectivamente, não toleram o carácter facultativo da religião nem a redução da carga horária. A salvação das almas não pode estar sujeita à vontade dos homens. Deus não se discute. A Bíblia não se põe a votação. Os sacramentos não são mercearia, à espera dos fregueses.
Na diocese de Díli castiga-se o corpo dos réprobos para lhes salvar a alma, prendem-se os suspeitos para os libertar dos pecados, ameaça-se a vida dos danados para que possam arrepender-se e gozar a vida eterna.
Não falta liberdade em Timor. Todos podem rezar o terço. Há missas frequentes. Os cânticos religiosos são estimulados. Os casamentos abençoados procriam para maior glória de Deus. A Virgem Santíssima viaja em papel colorido nas mãos dos crentes.
Em Timor cada homem é um soldado de Cristo cujos batalhões são comandados por dois bispos, auxiliados por uma multidão de freiras e padres. Em Timor o catolicismo avança em plena Idade Média. Em Portugal, o Governo e a Conferência Episcopal não sabem o que se passa em Timor e aguardam instruções divinas ou do Papa, dois intrujões com provas dadas e mentalidade anacrónica à espera de reciclagem.
A ICAR é pacífica.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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