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Mês: Abril 2005

16 de Abril, 2005 pfontela

Bastiões da fé II: o caso grego

Outro reduto da fé radical e abusiva é sem dúvida a Grécia onde a Igreja Ortodoxa Grega se insinuou de tal modo no Estado e nas vidas dos seus cidadãos que durante muito tempo foi impossível promulgar qualquer legislação que ameaçasse a ortodoxia.

Mas os tempos mudaram. Recentemente o público grego tem sido sistematicamente confrontado com escândalos dentro da Igreja. Desde traficantes de droga que se fazem passar por monges para fugir às autoridades (com a aparente cumplicidade da hierarquia da Igreja Ortodoxa Grega – IOG) a altos representantes da mesma Igreja que são acusados de corrupção (subornos a juizes e outros funcionários).

Tudo isto mais a inevitável mudança de mentalidade causou um verdadeiro colapso no apoio à Igreja e à sua posição privilegiada dentro da sociedade grega (cerca de 65% dos gregos são a favor da separação da Igreja e do estado). Pela primeira vez em muitos anos há uma oposição clara ao posicionamento do Estado face à Igreja. Até o parlamento grego partilha este sentimento, no mês passado na tomada de posse do novo presidente muitos deputados saíram da sala ou recusaram-se a levantar-se à entrada do arcebispo Christodoulos (representante máximo da IOG).

Ventos de mudança chegaram à Grécia, parecendo provável que os dias de religião forçada nas escolas gregas (ensinada como é óbvio pela IOG) e salários clericais pagos pelo governo estão a chegar ao fim.

16 de Abril, 2005 Mariana de Oliveira

Pecado corredor

Há uma semana, no Paquistão, homens munidos com bastões divertiram-se a queimar carros e atirar bombas incendiárias numa mini-maratona em Gujranwala, a sul de Islamabad. A corrida, uma das primeira a permitir a participação de mulheres, acabou com a polícia a disparar gás lacrimogénio e a deter mais de cinquenta pessoas.

Este incidente fez com que, no passado dia 11, um grupo de mulheres se manifestasse à frente do parlamento nacional paquistanês contra a «talibanização» do país.

Ao contrário do que muitos comentaristas do Diário Ateísta possam pensar, os autores desta publicação não se limitam a estar atentos (para eles, atacar) às relações da Igreja Católica com a sociedade portuguesa e europeia. Pelo contrário, nós, como ateus e democratas, queremos que todo o mundo se liberte da perniciosa influência das correntes religiosas que defendem a submissão inconstestável a dogmas medievos incompatíveis com a Liberdade e com a Igualdade.

15 de Abril, 2005 Carlos Esperança

Eu ateísta me confesso

Andam por aqui alguns crentes à espera da penitência pelos pecados cometidos. Vêm cheios de proselitismo, ansiosos por agradar a Deus. Não sei se é o desejo de mortificação que os atrai, se a inútil vontade de nos converter. Podiam ser mais originais no que escrevem, mas limitam-se a manifestações de subserviência para com o defunto Papa e a debitar louvores a um defunto mais antigo – Jesus Cristo. Depois, repetem até à náusea a prosa e a convicção.

Os créus têm as Igrejas, os órgãos de comunicação social, a Concordata, os padres, a água benta, o incenso, as orações e a eucaristia para ruminarem a fé numa posição de privilégio. Todavia arribam a este espaço de incréus onde não se apela ao terço, não se recomendam as orações, não se reconhecem os milagres nem a bondade do Papa milagreiro.

Aqui é um espaço de liberdade onde a Declaração Universal dos Direitos do Homem é a Bíblia que nos une, onde a igualdade dos sexos e a não discriminação por questões de raça, religião ou cor são o único credo. Aqui, no Diário Ateísta, consideramos que não há a mais leve suspeita da existência de Deus nem o menor motivo para pôr pessoas de joelhos e aliená-las com orações. Não reconhecemos à água benta mais valor do que à outra, nem à hóstia, depois de consagrada, mais calorias do que antes.

Os valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade, que a Revolução Francesa nos legou, são incompatíveis com o direito divino que as religiões defendem e com as ameaças e castigos com que os seus padres assustam. O Inferno somos nós que o fazemos, aliás, sois vós, os crentes. O Vosso Senhor, que se zanga com os homens que procuram a felicidade, que tem uma multidão de clérigos a administrar uma treta a que chamam sacramentos, que aliena as pessoas com ladainhas e orações, é uma ficção perigosa de raiz totalitária.

O Vosso Senhor, o Deus que as religiões do livro vendem, com atributos pouco recomendáveis e mau feitio, é uma invenção muito antiga, adaptada ao longo dos séculos e imposta com a barbaridade de que só os clérigos são capazes.

Nós sabemos que Deus vos ama. Não deixem que vos troque por nós, ateus, que apenas queremos que nos deixe em paz.

15 de Abril, 2005 Carlos Esperança

Um taumaturgo em vida

João Paulo II tornou-se intocável para o bando de beatos que lhe exaltam as virtudes que poucos notaram e lhe escondem os defeitos que todos viram.
O Papa retrógrado que se opôs ao planeamento familiar, que contribuiu para o avanço da Sida com a paranóica obsessão contra o preservativo, que odiou o sexo com o mesmo vigor com que Maomé perseguiu o toucinho, que ajudou a derrubar o muro de Berlim mas protegeu ditaduras de direita, esse Papa é hoje um santo proclamado por multidões histéricas à procura do sobrenatural.

O Papa que condenou a invasão do Iraque (o Papa da Paz, como é alcunhado), não condenou os Governos que a apoiaram onde se contavam os seus mais fiéis admiradores (Portugal, Espanha, Itália e Polónia). Não terá sido um caso de dupla personalidade ou mais uma manifestação da duplicidade habitual do Vaticano?

O Papa que discriminou as mulheres, silenciou teólogos, foi autoritário e absolutista, que procurou impor os seus preconceitos à humanidade, que combateu a laicidade, chamou loucos aos ateus e passou o pontificado em fanático proselitismo, defendeu sempre os seus bispos mais fanáticos e ostracizou os mais liberais.

Nestes dias que correm, entre os cardeais conciliares circulam mais intrigas do que hóstias, sussurram-se mais calúnias do que orações, nota-se mais a pesada mão do cardeal Ratzinger do que a leveza do voo do Espírito Santo.

Cada um dos cardeais está ansioso para que lhe saia o prémio que dará direito ao poder absoluto vitalício, aos permanentes microfones, aos banhos de multidão e a um enterro com milhões de pessoas a chorarem por contágio e desequilíbrio emocional.

A tiara pontifícia tem um estranho brilho e constitui uma obsessão cardinalícia mas os interesses políticos da seita pesam muito na escolha do premiado.

Para os mais beatos, que ficaram embevecidos com os cinco milhões de fiéis que foram a Roma certificar-se se JP2 tinha efectivamente deixado arrefecer o céu da boca, é bom lembrar que outros ditadores tiveram um enterro igualmente apoteótico:

José Estaline – 5 milhões; Ayatollah Khomeini – 5 milhões; Gamal Abdel Nasser – 5 milhões, enquanto Gandhi «só» teve 2 milhões e a lady Di se ficou por 1,5 milhões.
Fonte: Visão de 14-04-2005.

Claro que dos outros não há notícias de milagres, enquanto de JP2 há imensos, feitos à mão, com a hóstia ou com o simples olhar. Um taumaturgo dos diabos.

14 de Abril, 2005 Ricardo Alves

Laicidade, liberalismo e não só

No Blasfémias, João Miranda interpela o Diário Ateísta sobre várias questões.

  1. Convém esclarecer desde já que respondo a título meramente pessoal. Os redactores do Diário Ateísta não partilham necessariamente todas as posições uns dos outros, nomeadamente (mas não só) quanto à lei francesa que proíbe os símbolos religiosos ostensivos na escola pública.
  2. Parece-me óbvio que a propriedade privada de todos os meios de comunicação social só garantiria a liberdade de expressão dos proprietários respectivos. A Rádio Renascença, por exemplo, jamais dará tempo de antena a uma associação de ateus. Penso portanto que a pluralidade de meios de comunicação social, estatais e não estatais, defende melhor a livre circulação de todas as ideias, embora, evidentemente, reconheça as dificuldades de evitar a instrumentalização da comunicação social estatal pelo poder político do momento (ou pela histeria religiosa do momento, conforme temos visto nos últimos dias). As obrigações estatutárias dos media públicos, apesar de tudo, podem limitar os danos num mundo que nunca será perfeito.
  3. É evidente que «o Estado nada tem com o que cada um pensa acerca da religião» e que «o Estado não pode ofender a liberdade de cada qual, violentando-o a pensar desta ou daquela maneira em matéria religiosa», na frase lapidar de Afonso Costa. Justamente por isso, a escola do Estado não pode impôr a presença de crucifixos aos alunos, ou constrangê-los a participarem em rituais religiosos. Se é evidente que a escolaridade limita algumas liberdades individuais, desde logo ao ser obrigatória, exactamente por o ser deve assumir-se tão neutra quanto possível em tudo o que releva do livre arbítrio individual, como é o caso da crença.
  4. João Miranda engana-se gravemente quando compara as crenças religiosas aos conhecimentos de História ou de Física. A identidade do Presidente da República no dia 24 de Abril de 1974, ou a corroboração da Relatividade Geral pela precessão do periélio de Mercúrio, ou ainda o funcionamento dos órgãos internos de um qualquer mamífero, não são crenças. São factos. A escola pública deve ensinar esses conhecimentos comprováveis e universais, e não propagar crenças religiosas que são, essas sim, arbitrárias e individuais. (E que por isso podem ser erradas para uns e não para outros.)
  5. O liberalismo defendido pelo João Miranda não será inevitavelmente adversário da laicidade. Apenas o será no limite em que defenda o desmantelamento total do Estado e a privatização integral do espaço público. Eu acredito que apenas o Estado pode garantir alguma neutralidade do espaço público. E é evidente que essa neutralidade não deve apenas precaver-se contra a religião, mas também contra as ideologias e os partidos.
14 de Abril, 2005 Palmira Silva

O clube de fãs

«Putting the smackdown on heresy since 1981»

O «papável» escolhido pela cúria romana para celebrar a missa realizada no funeral de João Paulo II, o honorável prelado à frente da ex-Inquisição, a Congregação da Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, vai à frente nas intenções de voto do colégio eleitor. Aliás, já em Janeiro a revista Time indicava Ratzinger como o candidato com mais hipóteses. Descobri recentemente a página do seu clube de fãs, devotos e tolerantes católicos que certamente apreciam a forma vigorosa como ele tem defendido a pureza da fé e da doutrina católica e anatemizado «hereges» e ateus.

A concretizarem-se estas previsões o arqui-conservador Ratzinger será certamente um digno sucessor do finado Papa!

13 de Abril, 2005 Carlos Esperança

JP2 deve ser canonizado

A urgência da canonização do Papa Wojtyla é um desejo irreprimível dos numerosos órfãos que deixou. De facto, ele bem merece. Canonizou gente muito pior.

13 de Abril, 2005 Carlos Esperança

A eleição do Papa

«Deus já escolheu» [o futuro Papa].
(Afirmação do Sr. José Policarpo em carta à diocese de Lisboa)

Não se percebe a necessidade da deslocação a Roma de tantos cardeais. Bastava um telegrama do Céu, com a assinatura de Deus, a comunicar a decisão.

13 de Abril, 2005 jvasco

Um Deus cruel

«Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram»
Mateus 7:13

O Deus da mitologia cristã é conhecido pelos crentes por ser um Deus perfeito, de amor e de bondade. Também é conhecido por ser um Deus omnisciente, omnipresente e omnipotente. Creio que tudo isto está em evidente contradição com as escrituras sobre as quais essa mitologia é baseada.

Basta considerarmos o seguinte: o Inferno é, de acordo com essas escrituras, um lugar de sofrimento terrível e eterno. De acordo com essas escrituras, é o destino da maioria da humanidade. Assim sendo, o Deus da mitologia cristã decidiu, quando criou o mundo, fazer a maioria da humanidade por si criada sofrer um castigo terrível e eterno.

Qualquer cristão argumentará que não é bem assim: «não é Deus que condena as pessoas ao Inferno, Ele apenas lhes dá a Liberdade para escolherem, ele quer que elas escolham o céu!». Mas a verdade é que esse Deus já sabe a escolha que a maioria daqueles que criou vai fazer. Já sabe que qualquer um deles se vai eternamente arrepender da sua escolha, e que qualquer um deles preferia nunca ter existido, a ter sido criado tendo o sofrimento eterno como destino. Ainda assim Deus decidiu criá-los a todos. Quanta maldade, quanta crueldade é que tal acção representaria? Uma infinita maldade. Uma infinita crueldade. Ideal para a megalomania da mitologia cristã, que insiste em chamar a tal Deus, «um Deus de amor».

Imaginemos a seguinte imagem: um indivíduo teve, ao longo da sua vida, 13 filhos. A cada um destes, quando tinham 2 anos, deu-lhes a seguinte escolha: «Que é que preferes, estes espinafres, ou este bolo? Podes escolher o que quiseres, mas peço-te que não escolhas o bolo, pois será muito mau para ti, e eu ficarei triste». Estando o bolo envenenado, e sendo da natureza das crianças de dois anos preferirem doces a espinafres, ligando pouco a certas recomendações, 12 dos 13 filhos morreram. O filho que não morreu foi muito amado e recebeu todo o carinho e amor do pai.

Acharemos nós que este pai é amoroso e carinhoso? Considerá-lo-emos um bom pai?

Ele queria que todos os filhos escolhessem os espinafres, mas tinha de lhes dar a «Liberdade» para escolherem. Que maior prova de amor? Ele sofreu por todos os filhos que morreram, chorando amargamente. Ele acarinhou e protegeu o filho que fez a escolha certa durante toda a sua vida.

Não!
Este pai é horrível! Doentio!
De uma falta de amor indescritível!

Mas infinitamente pior é o Deus da mitologia cristã. Pois o pai do exemplo, mata os seus filhos, algo infinitamente menos cruel do que presenteá-los com o sofrimento eterno.

E o pai do exemplo, pode supor que muitos filhos vão escolher o bolo, mas o Deus da mitologia Cristã sabe que a maioria daqueles que criou escolherão o caminho do Inferno, e ainda assim tendo (pela sua omnipotência) o poder de criar apenas aqueles que vão escolher a salvação, preferiu criar todos.

Ainda bem que um Deus assim não existe.