Tolerância cristã
Continua o terrorismo da Igreja Católica timorense para derrubar o governo democraticamente eleito de Mari Alkatiri. Pelo único motivo de este ter decidido fazer uma experiência em 32 escolas do país, nas quais o ensino da religião seria facultativo e, a pior afronta, pago pelas Igrejas.
Depois de verem goradas as expectativas de golpe de estado, já que só conseguiram convencer cerca de cinco mil fanáticos a invadir o palácio governamental e derrubar o governo, a táctica da Igreja Católica passa por exigir ao Presidente da República, Xanana Gusmão, que demita o primeiro-ministro «para assegurar o funcionamento normal das instituições democráticas».
Como a única instituição que pode ser afectada pela decisão do primeiro-ministro é a Igreja Católica, que é a antítese de uma instituição democrática, não se percebe muito bem o fundamento da pretensão da delegação em Timor da opulenta Igreja de Roma. Está certo que vai ter de desembolsar mensalmente 32 salários de professores mas instalar um clima insurreccional por causa desta mísera quantia, especialmente quando pensamos nos milhões de euros que foram gastos na preparação deste último conclave, parece-me demasiado fútil. Porque não pode ser o carácter facultativo da disciplina que indigna os bispos, já que se de facto os timorenses são tão católicos como vociferam os Bispos então todos vão optar livremente por serem proselitados. Claro que a expensas da Igreja e o lema da Igreja sempre foi «Venha a nós o vosso reino»…
De realçar também a reacção do Bispo resignatário de Díli e prémio Nobel da Paz, Ximenes Belo, cuja fantástica e tolerante mediação para a paz passa por aconselhar o governo a desistir da proposta sobre o carácter facultativo da disciplina de Religião e Moral.
«Aconselho as duas partes a resolverem este problema. Ao governo, solicito que arquive aqueles decretos e aos bispos que pautem pelo diálogo», declarou Ximenes Belo à Lusa.
Este conselho é o ex-libris da tolerância cristã: façam como nós queremos, sigam o que mandamos e nós seremos … tolerantes?
Claro que outro «conselho» não se esperaria do ilustre dignitário da Igreja Católica que pediu a expulsão de Timor do jornalista da Lusa António Sampaio por este se ter atrevido a escrever num artigo que Ximenes Belo era conservador!