O próximo papa?
Amanhã começa no Vaticano o concílio que decidirá quem vai ser o novo papa e, mais importante ainda, indicará se serão concretizadas as esperanças dos católicos ditos moderados que almejam um papa mais próximo da modernidade, que não eleja a vivência medieval da fé como paradigma cristão.
Para mim e suponho que para os restantes ateístas que colaboram e seguem este diário, esta é igualmente uma ocasião que seguimos atentamente mas com apreensão. Porque quem for eleito neste conclave vai ser determinante na nossa acção futura. Porque se não me engano na minha análise dos factos vamos ver eleito um papa que será, se tal é possível, mais conservador que João Paulo II e mais determinado em anatematizar a laicidade e o ateísmo. A Igreja de Roma é uma organização política com centenas de anos de experiência e por mais que tentem «vender» o Espírito Santo como o inspirador da escolha, uma análise objectiva das eleições ao longo da História confirma que o vencedor é ditado pelos ventos da política. Interna, quando a Igreja tem assegurado o seu domínio temporal e política externa em tempos de crise. Foram apenas considerações de política externa que ditaram a eleição do doutra forma impossível João XXIII, numa altura em que era necessário lavar uma imagem muito chamuscada pela actuação dos pios Pios na segunda Guerra Mundial.
Nesta altura a imagem da Igreja, especialmente depois da mediatização da «bondade» de João Paulo II aquando da crónica da sua morte anunciada e desenvolvimentos, só é ensombrada para o grande público pelos inúmeros casos de pedofilia perpetrados por membros do clero. Um marketing subliminar em marcha há muito tempo tenta apontar como culpado o Concílio Vaticano II e os brandos costumes que permitiu, nomeadamente o abandonar das tradições (austeras) centenárias de celebração da missa. Muito vocal na condenação destas práticas modernistas litúrgicas é o «papável» que eu considero mais provável ser eleito, Joseph Ratzinger, que dirige, muito apropriadamente, a ex-Inquisição.
É o candidato mais provável porque a Igreja de Roma precisa afirmar o seu domínio numa área do globo que cada vez mais rejeita ser controlada por ela: a Europa. E a conjuntura actual é a ideal para um Papa que transmite, como Ratzinger no seu livro que viu estrategicamente a luz do prelo na passada quarta-feira, «Values in Times of Upheaval» (Valores em tempos de crise) as suas preocupações sobre o futuro de uma Europa que ele considera sob a ameaça da laicidade e do Islão e que manifesta publicamente o seu repúdio e desgosto pelos escândalos que abalam a santa Igreja.
«Para sobreviver a Europa precisa de uma aceitação crítica da sua cultura cristã» podemos ler no seu livro assim como «Na hora do seu maior sucesso a Europa parece ter ficado vazia interiormente, paralizada por uma crise que lhe ameaça a vida e dependente de transplantes», referindo-se à baixa taxa de natalidade europeia e à necessidade de mão de obra imigrante.
Numa homília escassos dias antes da morte de João Paulo II afirmou, e fez questão de tal ser reproduzido nos media, que «Senhor, muitas vezes a tua Igreja parece estar prestes a afundar e a parecer um barco cheio de buracos… A face e roupagem da tua Igreja chocam-nos. Mas somos nós que a conspurcamos» numa clara alusão ao escândalo da pedofilia que tem abalado a Igreja católica por todo o Mundo.
Todas estas «coincidências» e mais algumas que seria fastidioso enumerar conjugadas com o facto de Ratzinger ter sido escolhido para proferir a missa no funeral de João Paulo II, elegia que serviu para realçar a sua ligação muito próxima ao finado para além de o ter feito aparecer com uma face humanizada até aí desconhecida, me fazem considerar ser muito provável que o novo Papa seja o actual Cardeal Ratzinger. De qualquer forma é expectável que o próximo Papa saia da ala mais retrógrada do Vaticano e que seja um europeu!
Para a semana veremos se a minha análise se revelou correcta! E devo confessar, para bem dos meus escassos tempos livres, que gostaria que não… E certamente não assinei a petição aos membros do Conclave para que elejam Ratzinger rapidamente!