7 de Março, 2005 Mariana de Oliveira
Momento teatral
O novo livro de João Paulo II, «Memória e Identidade», em que o papa aponta como causa dos males do mundo o movimento iluminista que colocou a razão e a dignidade da pessoa acima da fé e de Deus, afirma que, «se o homem pode decidir por si mesmo, sem Deus, o que é bom e mau, pode também decidir que um grupo de pessoas seja aniquilado, como aconteceu com o nazismo e com o comunismo, e como pode ainda acontecer».
Muito bem, parece que a existência de Deus é uma espécie de filtro que impede más acções e genocídios. O que leva à questão da perseguição e extermínio de nativos americanos pelos europeus colonizadores. A Igreja esquece-se que não censurou aquele genocídio e apoiou o comércio de escravos e, assim, esquece-se que é tão fácil matar em nome de Deus como em nome de qualquer outro valor.
A esta conclusão chega o escritor francês Jean-Claude Carrière, na sua peça de teatro intitulada «A controvérsia de Valladolid», em que se encena o debate, em 1550, sobre se os povos indígenas da América podiam ser considerados ou não humanos. Bartolomé de Las Casas traz testemunhos de massacres, violações e assassínio de crianças enquanto defende que os «índios» deviam ser considerados «irmãos em Cristo». Do contra encontramos Sepulveda, que cita as Escrituras e Aristóteles para provar que «Deus criou-os para nós. Ele esperou até que a nossa vitória sobre os Mouros fosse completa antes de nos guiar para estas novas costas. E Ele quis que eles se submetessem a nós».
Infelizmente para nós, não temos possibilidade de viajar até ao outro lado do Atlântico e a peça de teatro está em cena em Nova Iorque.