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Mês: Março 2005

22 de Março, 2005 Palmira Silva

Tragédia no Minnesota

Os legisladores americanos nos últimos tempos têm demonstrado uma inusitada preocupação com a religião, empenhando-se em fazer passar leis que imponham uma religiosa moral e bons costumes dos seus cidadãos, tais como a proibição de mostrar a roupa interior e a negação do direito a morrer com dignidade, para além de fomentarem financiamento público de actividades religiosas que o façam.

No entanto qualquer restrição à posse de armas é vista pelos mesmos legisladores como uma intrusão nos direitos dos indíviduos. Ontem numa escola secundária em Red Lake, Minnesota, um adolescente abriu fogo sobre os seus colegas, matando sete e ferindo vários, depois de ter morto dois dos seus avós!

Quando a religião ocupa a agenda política a saúde da «alma» é o tema dominante e o bem estar físico irrelevante!

21 de Março, 2005 Ricardo Alves

E depois eles é que são as vítimas

  • (1) Escola pública inglesa anuncia que não aceita ateus

A escola inglesa «Coopers’ Company and Coborn», em Upminster Essex, que é pública e portanto financiada pelos contribuintes, anunciou que não aceitará «humanistas ou ateus». O responsável pelas admissões na escola justifica-se afirmando que «esta é uma escola cristã e, a final de contas, os candidatos têm que estar preparados para apoiar o ethos da escola». Dado que os ateus e os humanistas não conhecem os dogmas essenciais do cristianismo (ao contrário dos judeus e muçulmanos), não são aceites.

Comentário: ao cuidado dos fanáticos da autonomia escolar e do financiamento estatal da escola confessional.

  • (2) Hirsi Ali não desiste de lutar

Ayaan Hirsi Ali, a deputada holandesa que se atreveu a colaborar num filme que focava a opressão islâmica sobre a mulher (filme esse que parece ter levado ao assassinato de Theo Van Gogh), teve autorização de um tribunal para continuar com as filmagens do seu novo filme, que no entanto foi criticado pelo tribunal por se arriscar a testar os limites da liberdade de expressão.

Hirsi Ali não desiste de fazer campanha contra a mutilação genital feminina e de tomar posição contra o fundamentalismo religioso. Vive presentemente sob escolta policial permanente, dormindo ou em bases militares ou em prisões de alta segurança. A esposa de um islamista detido pela polícia afirmou recentemente que Hirsi Ali será morta por mulheres muçulmanas, «nem que demore dez anos».

Comentário: Hirsi Ali arrisca-se, infelizmente, a sofrer o mesmo destino do que Salman Rushdie.

  • (3) Ministro britânico explica que o Tratado Constitucional europeu é bom para as igrejas

Falando para um fórum religioso britânico, Denis MacShane disse que embora a omissão do cristianismo no preâmbulo fosse lamentável, a verdade é que o Tratado Constitucional europeu estabelece um relacionamento entre a UE e as igrejas que «não existe em nenhum outro Tratado». Referia-se, como é evidente, ao artigo I-52, e desafiou ainda os religiosos a encontrarem outro Tratado internacional que desse uma tal «centralidade às crenças e práticas religiosas». O ministro britânico incitou as igrejas a aproveitarem esta «porta aberta».

Comentário: só não concordo com o lamento e com o incitamento. O resto está certo.

21 de Março, 2005 Carlos Esperança

A violência da ICAR na Argentina

A Argentina é um país frequentemente vítima de uma dupla tirania – dos militares e da Igreja católica. Agora, que generais recolheram as garras, assanharam-se as da ICAR. O bispo das Forças Armadas, António Baseotto, um pio almocreve da fé, explodiu em ódio beato contra o ministro da Saúde por este defender a despenalização do aborto e o uso do preservativo, como assinalou a Palmira no artigo «Bispo católico despedido».

Para o asinino prelado são intoleráveis tão medonhas heresias e defendeu que o ministro da Saúde, Ginès Gonzalez Garcia, merecia «ser atirado ao mar com uma pedra de moinho ao pescoço». Esta era, aliás, uma prática corrente na ditadura militar, em que se atiravam ao mar, a partir dos aviões navais, os presos políticos , perante o silêncio cúmplice da ICAR cuja simpatia pelos generais fascistas era mútua e recíproca.

A democracia rompeu esse equilíbrio perfeito entre o altar e o poder, entre os bispos e a ditadura, entre a fé a disciplina. Os militares impunham a ordem e os bons costumes e o clero combatia o demo e a democracia. Antigamente a Igreja católica purificava pelo fogo da inquisição, hoje opta pela água do mar onde pretende afogar os ministros que se conformam com o aborto e defendem o preservativo.

O presidente da República argentina pediu à Santa Sé para substituir, na chefia do clero das Forças Armadas, um bispo que evocou os tristemente célebres «voos da morte» que levaram o luto, a revolta e a indignação ao povo argentino e que, de algum modo, o bispo queria perpetuar indicando como vítima o ministro da Saúde.

Quando se esperava que das alfurjas do Vaticano viesse uma advertência ao bispo, um anti-semita violento que já levou a comunidade judaica a pedir também a sua remoção, assistiu-se ao seguinte:

– O porta-voz do Vaticano, Joaquin Navarro Valls, declarou que se tratava de uma violação da liberdade religiosa impedir o bispo de exercer o seu múnus;
– Os bispos argentinos, reunidos no sábado passado, qualificaram a decisão do Presidente da República, de pedir a substituição da santa cavalgadura, de «apressada e unilateral»
– O porta-voz do Episcopado, Jorge Oesterheld, declarou à comunicação social que a remoção do bispo Baseotto era «um passo para a discriminação e um atropelo à liberdade religiosa».

A demência não é um apanágio do islão, está inscrita no código genético das religiões reveladas e dos sicários de Deus.

21 de Março, 2005 Mariana de Oliveira

As aparências

Vinda do Renas e Veados, chega a notícia que um bispo católico, em San Diego, recusou um funeral a um católico, por este ser dono de dois bares gays.

De acordo com um representante da diocese, o negócio do falecido era «inconsistente com os ensinamentos católicos» e «as pessoas ficariam escandalizadas se a igreja concedesse um funeral a alguém que se dedicasse a estas actividades».

O mais curioso é que o bispo que recusou a cerimónia fúnebre acordou numa indemnização de 100 000 dólares a um ex-seminarista que alegava ter sido coagido a ter relações sexuais não só com este senhor, mas também com outros clérigos influentes.

20 de Março, 2005 Mariana de Oliveira

Islão no feminino

Amina Wadud, professora de Estudos Islâmicos na Universidade de Commonwealth de Virgínia e autora do livro «Qur”an and Woman: Rereading the Sacred Text from a Woman”s Perspective», foi a primeira mulher presidir a uma oração islâmica onde estiveram presentes ambos os sexos.

Para a organização Muslimwakeup.com – e para o mundo – este é um evento histórico que deve ser celebrado uma vez que «as mulheres muçulmanas vão reclamar o seu direito a ser iguais em termos espirituais e líderes».

Como não podia deixar de ser, as críticas não se fizeram esperar. Talib Abdur-Rashid, imã da mesquita da Irmandade Muçulmana em Harlem, afirmou que «O islão é uma religião de fé e de crença, mas também de lei» e que «não existe nenhum precedente legal», questinonando «o que é que as pessoas da Muslimwakeup perceberam que milhares de milhões de muçulmanos ao longo do tempo não tenham percebido?». Ora, a lei não é imutável e, quando está contra a ideia de Justiça e de Direito, deve ser mudada. Para além disso, os precedentes abrem-se e este é um que deve ser aberto.

Esta é uma iniciativa que todos devemos aplaudir, muçulmanos ou não. A mulher, tanto a muçulmana como a cristã, foi relegada demasiado tempo para segundo plano. É altura de, finalmente, elas se afirmarem como titulares plenos direitos não só dentro da sua própria religião, como também na sociedade.

20 de Março, 2005 Palmira Silva

Direito a morrer: desenvolvimentos

Aparentemente os apelos do Vaticano para a revogação da ordem judicial que permitia a interrupção da manutenção assistida de Terry Schiavo foram ouvidos. Os microfones da Rádio Vaticano têm estado muito activos com o caso: o bispo Elio Sgreccia, presidente da Academia para a Vida, afirmou , na semana passada, que o «caso ultrapassa a situação individual devido ao seu carácter exemplar e à importância que os media lhe atribuíram». Já o Cardeal Martino, que preside ao Conselho Pontifício para Justiça e Paz, relembrou as palavras recentes do Papa sobre o caso «confirmando que a qualidade de vida não pode ser aferida por sucesso económico, beleza e prazer físico (já agora nem por consciência de si próprio) mas consiste na dignidade suprema da criatura feita à imagem e semelhança de Deus» e que «ninguém pode ser árbitro da vida excepto o próprio Deus».

De facto, os fazedores de leis republicanos trabalharam arduamente no sábado para produzir uma lei federal que obrigue os médicos a prolongar a vida de Terry Shiavo, a americana que sofreu um acidente cerebral muito grave e irreversível há 15 anos, que a deixou num estado vegetativo permanente.

A lei, que deve ser aprovada a curto trecho, foi produzida 24 horas após os médicos, por ordem judicial de um tribunal da Flórida, terem removida o tubo que alimentava Terry e que a manteve viva nos últimos 15 anos, já que sem suporte externo Terry teria falecido logo após o acidente que privou o seu cérebro de oxigénio.

O presidente Bush, o grande defensor da vida que todos conhecemos, interrompeu as suas férias no Texas para assinar a dita lei, que é discutida hoje numa sessão especial do Congresso americano, convocada especialmente para o efeito.

O senador Bill Frist, líder da bancada republicana e representante do Tennessee, afirmou que «O congresso dos Estados Unidos tem trabalhado ininterruptamente nos últimos três dias para manter a dignidade humana e afirmar a cultura da vida».

É pena que a invasão do Iraque não tenha merecido uma quantidade análoga de trabalho extra para manter a dignidade humana dos iraquianos e afirmar o seu direito à vida! Ou que os filhos dos crentes das muitas Igrejas cristãs que consideram blasfemos os hospitais e tratamentos médicos, considerando que o único tratamento possível é a oração, continuem a morrer de doenças facilmente curáveis ou para as quais existem vacinas há décadas. Mas, claro, obrigar alguém a tratamento médico que rejeita por questões de fé é completamente diferente de retirar esse tratamento por razões ateístas como respeitar o direito a morrer em dignidade!

É pena ainda que o tempo dos congressistas não seja dispendido a declarar inconstitucional a lei do estado do Ohio que reza na secção 2151.03(e):

«Uma criança que, em vez de tratamento médico ou cirúrgico para uma ferida, doença, incapacidade, ou doença física ou mental, está sujeita a tratamento espiritual através de oração, de acordo com os preceitos de uma religião bem reconhecida, não é uma criança negligenciada…»

acrescentando na secção 2151.421, que «nenhum relatório é necessário no que concerne a uma criança nessa situação.»

20 de Março, 2005 Palmira Silva

Massacre de Kanungu: cinco anos depois

Em 17 de Março de 2000, cerca de 1 000 pessoas foram imoladas pelo fogo na Igreja do culto Movimento para a Restauração dos Dez Mandamentos de Deus, liderado por Joseph Kibwetere, Credonia Mwerinde, Angelina Mugisha, padre Joseph Kasapurari e padre Dominic Kataribabo. O culto católico apocalíptico pregava que o fim do mundo ocorreria na passagem do milénio e que a admissão directa no Céu só era possível por restauração dos Dez Mandamentos.

O movimento teve a sua génese nas visões da Virgem Maria de Credonia Mwerinde, católica e filha de piedosos católicos que por necessidade tinha feito uma incursão pela prostituição, que a mandou fundar a Ishaatuuriro rya Maria (A Igreja de Maria Mãe de Deus). Uma versão africana do «milagre» de Fátima que, numa zona do globo de abissal pobreza, desespero e obscurantismo, teve um fim trágico. Credonia afirmava ainda que em 14 de Junho de 1980, fora instruída pela Virgem para observar o Sexto Mandamento, cujo desvio era a causa da SIDA.

Credonia era assim a colaboradora ideal para o que seria o líder do culto, Joseph Kibwetere, um político, que afirmava igualmente ter experienciado encontros imediatos com a Virgem Maria que o instruíra para reformular os Dez Mandamentos. Um dos «segredos» comunicados era o fim do Mundo na passagem para 2000…

Com um discurso salpicado liberalmente de ameaças do apocalipse, os líderes do culto manipularam os seguidores, camponeses ignorantes na sua maioria, à submissão. Todos os direitos fundamentais lhes eram negados sem serem admitidas quaisquer perguntas ou dúvidas sobre a verdade revelada aos líderes, como é prática corrente nas religiões reveladas. Toda a estrutura do culto assentava em princípios que violavam os direitos humanos e de cidadania: os pais eram separados dos filhos, as crianças que choravam à noite eram expostas aos elementos até deixarem de chorar, os casais não podiam relacionar-se sexualmente, as mulheres que engravidavam eram escorraçadas dos campos do culto pelos líderes, os membros eram encorajados a despojarem-se dos bens materiais (entregando-os aos líderes do culto, claro), etc..

Claro que enquanto os crentes eram despojados dos mais elementares direitos, bens e conforto materiais, os líderes religiosos apreciavam em grande estilo os seus!

O problema para os líderes do culto surgiu quando o Mundo não acabou na passagem de ano de 1999 para 2000. Os seguidores foram encorajados a rezar mais fervorosamente e a jejuar enquanto os líderes preparavam o golpe final para se livrarem dos agora incómodos crentes. Pensa-se que estes últimos foram envenenados num jantar preparado para emular a Última Ceia e conduzidos à Igreja que foi então incendiada. As contas bancárias do culto e seus seguidores tinham sido limpas previamente…

Cinco anos depois os (ricos) líderes do culto e responsáveis pelo massacre, continuam em liberdade em parte incerta.

20 de Março, 2005 Palmira Silva

Colónia (In)Dignidade

A Argentina expulsou para o Chile Paul Schaefer, de 83 anos, um antigo nazi depois pastor evangélico e fundador de um culto cristão sinistro, para que este possa ser julgado por crimes de pedofilia e tortura cometidos durante o regime de Augusto Pinochet. Schaefer está fugido da justiça chilena desde a emissão de um mandato para a sua captura em Agosto de 1996 para responder a múltiplas acusações de pedofilia, sendo depois condenado em 2004 juntamente com 22 pessoas responsáveis pela colónia fundada por Schaefer em 1961.

Schaefer foi capturado há uma semana na localidade de Tortuguitas, perto da capital argentina, Buenos Aires, após seis meses de investigação da polícia local.

Paul Schaefer, um paramédico no exército de Hitler, pastor evangélico depois da guerra, fugiu para o Chile em 1961 depois de ser acusado de abusar sexualmente de dois rapazes no lar que fundou, supostamente para auxiliar os orfãos de guerra.

Aí, sob os auspícios de Augusto Pinochet, com quem colaborou entusiasticamente, nomeadamente na tortura artística de opositores do ditador, ao som de Mozart e Wagner, fundou a Colonia Dignidad, «um estado dentro de um estado» como se lê num relatório do Congresso chileno, cercado de arame farpado e cercas eléctricas, onde floresceu o seu culto cristão, envolvendo muitos exorcismos de demónios e demonização do sexo. Excepto, claro, o imposto abusivamente pelo próprio Schaefer aos jovens do culto…

19 de Março, 2005 Palmira Silva

Bispo católico despedido

O prelado argentino Antonio Baseotto, bispo das Forças Armadas, foi destítuido das suas funções após ter afirmado que o ministro da Saúde do seu país devia ser atirado ao mar, uma prática recorrente na ditadura militar.

O bispo da Igreja que é intransigente na defesa da vida, com o inestimável apoio de citações do Novo Testamento, afirmou que dever-se-ia amarrar uma pedra ao pescoço do ministro Gines Gonzalez Garcia e atirá-lo ao mar, já que este tem assumido posições reiteradas em defesa da legalização do aborto.

O referido ministro da Saúde tem sido contestado e alvo de críticas dos devotos católicos argentinos devido a decisões como a distribuição gratuita de contraceptivos no país e a revogação de uma decisão judicial que bania o uso da pílula contraceptiva e de dispositivos intra uterinos. Em relação a esta última, Gonzalez Garcia declarou ser uma decisão «absurda e baseada no apelo de fundamentalistas religiosos» e impediu que tivesse efeitos, nomeadamente a destruição de todos os dispositivos e pílulas existentes no país.

Não obstante ser apenas o Vaticano a entidade com autoridade para destituir Bispos e Roma ter reagido aos dislates do Bispo ratificando a sua nomeação, o governo argentino já declarou que iria retirar o seu apoio ao Bispo, nomeadamente que deixaria de lhe pagar o respectivo salário.