O humano
Na homilia de domingo, o cardeal-patriarca de Lisboa, José Policarpo, criticou a «moda» da redução da figura de Jesus Cristo à sua condição humana e defendeu que essa leitura, contrária aos Evangelhos, «destrói a fé» católica. Para Policarpo, «Jesus Cristo voltou a estar na moda na literatura, na arte, nos media, que procuram apresentá-lo apenas como um homem, extraordinário porventura, mas sujeito aos limites da raça humana», moda esta que é o resultado de um contexto cultural «que dificilmente aceita a dimensão transcendente da vida».
A divulgação de uma outra perspectiva, mais humana e mais próxima do cidadão comum, põe em causa um dos dogmas mais importantes do cristianismo: o da divindade de Cristo. Este estatuto foi decidido no primeiro concílio de Niceia, convocado por Constantino em 325, que definiu este credo ou símbolo de Niceia e, assim, negou o Arianismo. Esta doutrina defendia que Cristo não era verdadeiramente divino, mas um ser criado. De acordo com Arius, apenas o Pai é imutável e existente por si mesmo e o Filho é apenas uma criatura com um princípio. Pelo contrário, o concílio de Niceia condenou Arius e declarou que o Filho tem a mesma substância que o Pai.
Talvez por ter sido uma das questões fracturantes do início da cristandade seja ainda difícil a alguns membros da hierarquia católica lidarem com uma perspectiva que aproxime Jesus Cristo ao cidadão comum, assim, o torne num homem com virtudes e defeitos como qualquer um.