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Mês: Fevereiro 2005

14 de Fevereiro, 2005 fburnay

Lucy in the Sky with Diamonds

As actividades de campanha do PSD e do CDS foram interrompidas temporariamente devido à morte da irmã Lúcia. Disse Pedro Santana Lopes que a irmã Lúcia é, independentemente da fé de cada um, uma personagem importante na História de Portugal… Para Paulo Portas “a Irmã Lúcia é uma grande figura na história da Igreja, está no coração dos portugueses como uma grande figura religiosa e espiritual de Portugal e é uma figura ímpar do século XX português”. Já o PS promete continuar com a campanha mas interromper acções festivas, conforme anunciado pela Agência Lusa.
Talvez o delírio colectivo do qual é ícone mereça um lugar na História do catolicismo português e do combate à 1ª República mas o que é certo é que a importância da dita só tem valor para quem de facto tem fé. Note-se que 30% dos católicos portugueses não acreditam no milagre de Fátima e 50% não acreditam no 3º segredo.
Mas a alucinação pelos vistos continua…

13 de Fevereiro, 2005 Carlos Esperança

Comoção em Coimbra. Faleceu Lúcia

A Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Imaculado Coração de Maria, ou Lúcia, simplesmente, faleceu hoje, inevitavelmente num dia 13, aos 97 anos.
A afamada vidente cuja ocupação principal era a oração entregou a alma ao criador. Desconhecia a popularidade que granjeara fora do convento e tinha do mundo a visão que a madre superiora e os sucessivos directores espirituais lhe impingiram.
Nascida a 22 de Março de 1907 no lugar de Aljustrel foi muito precoce a receber o primeiro sacramento, ao 8.º dia, livrando-se da chatice do Limbo graças à água benta e às rezas.

Foi escolhida para fazer recados à Senhora de Fátima, que a visitou várias vezes. «Em reconhecimento, a Senhora voltou a aparecer-lhe em 26-08-1923, no Asilo de Vilar, Porto; 10-XII- 1925, em Pontevedra, Espanha,(revelação dos primeiros sábados); 13 de Junho de 1929, em Tuy, Espanha, (Nossa Senhora pede a consagração da Rússia). Em fins de Dezembro de 1927, a Irmã Lúcia escreve a descrição da Aparição do Menino Jesus que teve lugar em Pontevedra, no dia 15 de Fevereiro de 1926» – lê-se na biografia oficial.

Ainda criança, visitou o Inferno com uma bolsa de estudo que a senhora de Fátima lhe deu para, entre outras coisas de estarrecer, lhe mostrar um republicano de Vila Nova de Ourém que não ia à missa. De todas estas verdades deu conta aos pecadores e só não acreditou quem não quis.

Adversária do divórcio e da mini-saia, a cuja moda nunca aderiu, escreveu a Marcelo Caetano a pedir a sua proibição. Morreu solteira e virgem, características que, a partir de agora, lhe auguram uma fulgurante carreira de santidade.
A ICAR não concedeu a exclusividade dos direitos de transmissão da sua morte a nenhum dos vários canais televisivos interessados.

A carta de 24/02/1971 da Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, vidente de Fátima, cuja longevidade lhe atrasou a carreira de santidade, a apelar ao Prof. Marcelo Caetano para que a lei do divórcio fosse abolida do Código Civil, não obteve resultados práticos.

12 de Fevereiro, 2005 pfontela

O regresso do rei

O sumo pontífice católico anunciou ontem que tinha a intenção de se manter à frente da ICAR. Se a sua decisão se fica a dever à megalomania de um dever “divino”, que eventualmente afecta todos os líderes totalitários, ou a manipulações no interior da santa madre igreja é incerto. O que é certo é que os jogadores chave já se estão a posicionar para o próximo conclave, sendo que o principal jogador é o próprio monarca católico (ou seja quem for que tenha influência sobre ele…) que acabou de nomear Jean-Marie Lustiger, ex-arcebispo de Paris, cardeal. Lustiger é um dos mais fortes candidatos à sucessão, desde que o conclave se realize nos próximos tempos (o cardeal já conta com 78 anos e o limite é 80). Um dos pormenores interessantes desta figura é que ele era originalmente Judeu, mas com o holocausto perdeu a fé e acabou na hierarquia católica (é o primeiro cardeal católico com um passado de judaísmo). Também é interessante saber que esteve à frente do pedido de desculpa dos bispos franceses pelo colaboracionismo católico com os nazis.

Enquanto não temos a certeza quem é o príncipe herdeiro resta-nos acolher de volta o rei.

Long live the king!

12 de Fevereiro, 2005 Palmira Silva

Satirycon

«A ideia de um Ente supremo que cria um mundo no qual uma criatura deve comer outra para sobreviver e, então, proclama uma lei dizendo: ‘Não Matarás’ é tão monstruosamente absurda que não consigo entender como a humanidade a tem aceite por tanto tempo.» Peter de Vries

Peter de Vries, editor do «The New Yorker» desde o final da década de 40 até meados dos anos 70, é um dos meus autores satíricos favoritos, juntamente com Tom Sharpe, Joseph Heller e Kurt Vonnegut.

Pessoalmente considero de Vries como um dos grandes satíricos do século passado, com uma pena fabulosa em trocadilhos, mas infelizmente é não só pouco conhecido como os seus livros são muito difíceis de encontrar, normalmente só em livrarias de livros em segunda mão ou de livros raros (comprei os meus preciosos exemplares numa deliciosa mistura de ambas em Hilcrest, San Diego). Presumo nunca ter sido traduzida para português alguma das suas obras primas. No entanto, banalizámos muitos epigramas de De Vries no léxico do nosso quotidiano, como, por exemplo, «Nostalgia isn’t what it used to be» (a nostalgia já não é o que era).

Nos seus fabulosos textos satíricos, Peter de Vries deixa-nos apreciações sortidas que nos deveriam fazer reflectir. No seu romance Reuben, Reuben, adaptado para o cinema por Julius J. Epstein, escreve sobre Aristóteles que «a prova do seu domínio sobre o homem ocidental é que ele domina o pensamento de gente que nunca ouviu falar a seu respeito».

O livro que recomendo, quando for reeditado, claro, Mackerel Plaza, conta-nos as vicissitudes do pastor da People’s Liberal Church em Avalon, Connecticut, Andrew Mackerel, ou Holy Mackerel. O jovem pastor perde a esposa num acidente de canoagem que é uma hilariante sucessão de incidentes e, passado pouco tempo, apaixona-se por uma ex-actriz com quem deseja casar. Mas os seus piedosos paroquianos consideram que, depois de ter sido casado com uma «santa», o seu pastor deve permanecer celibatário o resto da vida. Algumas iniciativas para manter viva a memória da falecida consistem num painel de néon que relembra «Jesus salva» e a construção de uma praça, a Mackerel Plaza. Toda esta devoção força o pobre pastor a encontrar-se com a sua amada em bares e hoteis de reputação duvidosa.

No livro, Holy Mackerel debita pérolas como «A prova final da omnipotência de Deus é que ele não necessita existir para nos salvar».

12 de Fevereiro, 2005 Palmira Silva

Um excelente dia de Darwin

São os votos da equipa do Diário Ateísta! E sugerimos que o celebrem inscrevendo-se como Amigos de Darwin . De forma à celebração planeada para 12 de Fevereiro de 2009 evoluir para uma festa global!

O dia de hoje é celebrado por todo o mundo como um símbolo da ciência e da humanidade, não só por se comemorar o nascimento de Darwin há 195 anos como a publicação do livro «A origem das espécies» publicado há exactamente 145 anos.

Podem ainda espreitar os prémios Darwin deste ano.

12 de Fevereiro, 2005 Carlos Esperança

O Papa tornou-se um empecilho

Reina no beatério católico a convicção de que a sua Igreja foi fundada por Jesus Cristo e de que é exemplo de santidade. Os crimes passados são como as águas que deixaram de mover moinhos. O que conta é o presente e a bondade do seu clero. O que a distingue das outras é seu Deus verdadeiro, a maravilha dos milagres e a excelência do Papa.

Nisso dos milagres até têm razão. Nas outras religiões os mortos remetem-se às suas cinzas e deixam em paz os vivos. Na ICAR são requisitados para fazer curas, praticar boas acções e concorrerem a vagas de santidade que JP2 abriu em grande quantidade. É o regabofe da pantomina e a apoteose da superstição. Deus, desaparecido em parte incerta, faz-se representar por cadáveres mais ou menos recomendáveis que ensaiam umas curas perante o silêncio da Ordem dos Médicos e o desprezo dos bruxos e ofícios correlativos.

Já quanto à bondade da ICAR nem vale a pena falar nas perseguições aos teólogos progressistas e no impedimento da pregação a quem leia diferente a cartilha que a Cúria impõe. Mas esperar de uma religião a defesa da verdade, em detrimento da promoção do negócio, é de uma ingenuidade que só convence os néscios. É como pensar que os cardeais estão preocupados com a saúde do Papa. Apenas se interessam com os dividendos que as cerimónias fúnebres possam render e os prejuízos de uma longa agonia.

JP2 regressou ao Vaticano. O núcleo duro discute as vantagens e inconvenientes da sua presença à frente da ICAR. Dizem que está em óptimas condições intelectuais, como qualquer pessoa nota. Há uns séculos havia formas expeditas de resolver a situação, hoje todos os cuidados são poucos. O antecessor só esteve 33 dias em funções, até Deus o chamar. Hoje, com tanto incréu nos meios de comunicação, são poucos os que acreditam na vontade divina e muitos os que observam o embaraço dos cardeais.

Dá mais trabalho fingir que é o Papa que manda na Igreja do que exercer o poder de facto. A actual situação está insustentável. A Cúria vai ter de tomar uma resolução nos próximos dias.

12 de Fevereiro, 2005 André Esteves

Robots fornicadores virtuais ameaçam a cristandade…

Da Coréia do Sul chega-nos a notícia do último avanço na robótica: os cromossomas virtuais.
Trata-se de um algoritmo de evolução artificial que permitirá aos robots que o executem, fazer sexo…

Para o leigo, parecerá disparatado, mas trata-se do equivalente biológico do sexo das amibas.
Ora, quando há sexo há evolução. E acelarada, porque os algoritmos evolucionários fazem eles próprios a selecção dos genomas envolvidos, em função dos traços desejados.

Os Robots assim programados, com os cromossomas artificiais, podem construir emoções e relações afectivas com os outros seres animados do seu mundo.

O criador do sistema, Kim Jong-Hwan, é peremptório: «Christians may not like it, but we must consider this the origin of an artificial species. Until now, most researchers in this field have focused only on the functionality of the machines, but we think in terms of the essence of the creatures.» Traduzindo: « Os cristãos poderão não gostar, mas devemos considerar isto como o nascimento de uma espécie artificial. Até agora, a maior parte dos investigadores neste campo só se focaram nas funcionalidades das máquinas, mas nós pensamos em termos da essência destas criaturas.»

E não se trata de um inventor lunático qualquer… É o principal investigador do Instituto Coreano de Investigação de Robots Inteligentes e foi o originador e principal impulsionador da competição mundial de futebol robótico… Na qual Portugal têm tido bons resultados.

Resta saber se, depois de desligados da corrente eléctrica, os autómatos irão para o céu ou para o inferno…

12 de Fevereiro, 2005 pfontela

A amoralidade

Neste nosso planeta, cada vez mais pequeno, ouvimos um aumento no volume da voz das “maiorias morais” que anseiam desesperadamente tornar-se maiorias políticas. O exemplo americano dá-nos uma ideia do que estes grupos anseiam: um governo semi-teocrático onde o teísmo de estado passa a ser a norma, onde a liberdade passa a ser uma palavra oca, cujo único significado é a obediência às leis da maioria crente. Um paraíso onde a religião reina incontestada (ou pelo menos o monoteísmo do médio oriente…).

Num mundo onde esta atitude perante o estado parece cada vez mais comum os religiosos recusam-se a ver os problemas que eles próprios criam. Para eles a moralidade de estado é uma solução maravilhosa desde que seja o seu código a ser vinculado. A existência de pessoas que não partilham o seu código é irrelevante, o facto de o seu código ser imensamente abusivo para as liberdades individuais não os aquece nem arrefece e para culminar tudo isto a completa irracionalidade de todo o seu sistema de crença e organização é negada veementemente, não vá a fé falhar. À medida que as leis da blasfémia voltam a ser implementadas pela Europa e que as religiões voltam à carga no plano político a situação parece má para os que prezam a laicidade (e a liberdade que esta trás).

E é por isso que eu hoje me insurjo e digo: devolvam-me a minha liberdade!! É necessário ter o nosso estado amoral de volta. É preciso negar a autoridade dos políticos de ditar moral aos seus cidadãos. A moralidade do púlpito está morta e não se deve perverter o sistema democrático para a voltar a instaurar (quase consigo ouvir os suspiros nostálgicos de sacerdotes por esse mundo fora…).

Mas como sempre nada é de graça. Em qualquer situação onde há uma liberdade existe sempre uma obrigação/necessidade. É urgente que os cidadãos dos países laicos, de uma vez por todas, tomem a responsabilidade de tomar as rédeas das suas próprias vidas. O pensamento uniforme está morto. E daí a decadência da religião organizada nas zonas onde a liberdade é uma realidade. E para tomar controlo das nossas próprias vidas é preciso começarmos a pensar por nós mesmos e chegar à conclusão que a nossa individualidade é o bem mais precioso que temos e que para o proteger só temos que adoptar um único axioma, uma única norma: e não, não falo do amor (ainda não cedi às baboseiras sentimentalistas do proselitismo barato) falo sim de algo muito mais importante, a regra de ouro de qualquer civilização liberal, a não agressão. Podemos amar ou odiar alguém mas independentemente disso devemos reconhecer o seu direito á individualidade.

«It is grossly selfish to require of one’s neighbour that he should think in the same way, and hold the same opinions. Why should he? If he can think, he will probably think differently.» – Oscar Wilde

Nem mais Oscar.

11 de Fevereiro, 2005 André Esteves

Cristo está na moda!

Depois do filme «The Passion of the Christ», apareceu o «The Fashion of the Christ».

A maior história alguma vez contada, de uma maneira muito superficial…

P.S-> Entretanto, o Gibson pretende reeditar na Páscoa, uma nova versão do The Passion… Mais suave e romântica. Esperemos que provoque menos ataques cardíacos entre os crentes fracos de coração.

9 de Fevereiro, 2005 Carlos Esperança

Agitação no Vaticano

Há grande efervescência no Vaticano. No antro ninguém tem notícias de Deus nem é capaz de adivinhar o fim do déspota. Os negócios não param mas as estratégias de conquista de novos mercados estão paralisadas. Os fluxos de capitais dos EUA e da Alemanha estão em regressão. A exploração de um Papa deficiente lembra os pedintes das grandes cidades que exibem um aleijado para aumentarem a piedade das pessoas sensíveis. O truque não pode continuar.

Há entre os mais poderosos dignitários sólidos rancores e invejas antigas que começam a tornar-se visíveis. Por enquanto estão unidos pelo pacto reaccionário com o Papa polaco. Temem que um espírito ligeiramente mais arejado faça tremer os alicerces da última ditadura europeia. Sabem que se se desentenderem podem criar um novo cisma. E o descrédito eclesiástico não aguenta diferentes interpretações da bíblia e divergências sobre o uso do preservativo. Esta é possivelmente a razão a que JP2 deve a longevidade.

Enquanto se desconhece se o Papa regressa vivo ou morto do Hospital onde está internado, as intrigas e jogos de poder aumentam de intensidade. JP2 dá a bênção em play back. O cardeal Angelo Sodano, número dois do Vaticano, diz que o Espírito Santo guia o Papa e sabe o que lhe há-de aconselhar, mas o Espírito Santo há séculos que desapareceu e o último lugar onde se arriscava a entrar era na sede da ICAR.

Para além do cardeal Sodano há outra figuras perturbadoras à solta: Julián Herranz, membro do Opus Dei e titular do Conselho Pontifício para os Textos Legislativos; o alemão Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício) e perseguidor dos partidários da teologia da libertação; o nigeriano Francis Arinze, do Conselho para o Culto Divino; e o mexicano Javier Lozano Barragán, titular da Pastoral de Saúde cujas funções lhe permitiram os mais rancoroso ataques contra as campanhas governamentais e sociais de prevenção da SIDA.

Este bando está inquieto. Hesita entre impor a renúncia ao Papa e conformar-se com a espera. Por sua vez JP2 fez saber, ou alguém por ele, na sua mensagem de domingo que, mesmo estando no hospital, continua a servir «a Igreja e toda a Humanidade». Desconte-se a megalomania e o auto-elogio às suas funções, e registe-se a advertência aos que estão impacientes para o despacharem. Com a vigilância mediática é difícil recorrerem à eutanásia. E o hospital fica em Itália!