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O Crisma

Acontece com o Baptismo o que ocorre com a vacina do tétano – com o tempo perde eficácia. Um ferimento com um prego ferrugento, em local habitualmente frequentado por cavalos, revela a perda de imunidade e extingue o prazo de validade da vítima.

Com a idade, as pessoas julgam-se imunes aos perigos do mundo e descuram as defesas. E se se descuidam com o corpo, por definição precário, arriscam-se ainda mais com a alma que, pela sua natureza, não se queixa. Diga-se que a alma sofre tanto mais quanto mais goza o corpo, sendo por isso tão apetitosos os pecados e tão amargo o destino da alma.

A Confirmação ou Crisma é um sacramento que faz perfeitos cristãos e soldados de Jesus Cristo e imprime esse carácter. O Crisma não diminui o Baptismo, é uma espécie de reforço executado por um técnico altamente especializado no ofício divino – um bispo. O Crisma está para o Baptismo como um transplante do coração para o tratamento dos calos.

O Crisma faz perfeitos cristãos e soldados de Jesus Cristo, dando abundância de Espírito Santo, isto é, da sua graça e dos seus dons. Com a quantidade de Espírito Santo que recebe e com tal abundância de dons, surpreendente que o cristão se faça apenas soldado de Jesus Cristo e não assente praça em general. Mas isto e a respectiva conversa da treta é o que ensina o catecismo da ICAR.

Quem recebe a Confirmação – ensina o catecismo – deve estar na graça de Deus e, se tem o uso da razão, condição absolutamente supérflua para um cristão, nesse caso deve conhecer os mistérios principais da fé e aproximar-se deste sacramento com devoção.

O bispo besunta depois a testa do candidato com uns óleos que designa de santos, faz uma cruz com o polegar e uma massagem vigorosa para que os óleos não escorram e penetrem até à alma. Com as rezas e os óleos fica feita a recruta para soldado de Cristo.

Recordo-me de ter recebido dois santinhos por saber muito bem a doutrina. Deram-me as munições mas esqueceram-se de me distribuir a espingarda. Talvez não tivesse direito ainda a uso e porte de arma.

O crucifixo do bispo era tão grande que mais parecia um morteiro de 16mm do que uma simples arma para afugentar o demo. E o bispo era tão farto de carnes que o demo se havia de intimidar, sobretudo com medo de que o prelado se sentasse em cima.

Os fregueses só recebem o Crisma uma vez na vida. Sem outra mudança de óleo, se existisse alma, esta acabaria por gripar. E os soldados de Cristo, com a alma gripada, tornavam-se num exército em debandada.

Perfil de Autor

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- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa

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- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»

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- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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