Cada cavadela, cada minhoca
Para acabar o ano em beleza, D. Jacinto Botelho, presidente da Comissão Episcopal da Família da CEP, considerou a decisão do governo espanhol de equiparar as uniões homossexuais ao casamento como «uma provocação à Igreja e aos valores da família».
O padre considera que «é, no mínimo, provocatório e é um escárnio à doutrina fundamental da Igreja. Não sei o que estará por trás mas não há dúvida nenhuma que estará certamente essa mentalidade laicista, que esquece os valores fundamentais e, possivelmente, será o reflexo de uma programação contra a Família, contra os valores essenciais, contra o progresso da própria sociedade».
Claro que a decisão do governo espanhol é provocatória da doutrina fundamental da ICAR porque esta doutrina é intolerante e sexista e o projecto de lei pretende exactamente o contrário, pretende reconhecer uma situação pertencente a uma realidade social que, actualmente, tem dignidade jurídica e, como tal deve ser reconhecida pelo legislador. Ora, a lei e o Direito não são subsidiários de uma moral religiosa de determinado grupo. Os tempos em que a lei suprema era a que emanava de Deus (entenda-se de alguns que se auto-proclamavam seus intérpretes) já se ultrapassaram há muito.
A Igreja Católica não tem qualquer legitimidade para impor os seus valores fundamentais e a sua visão da família a uma sociedade plural e multicultural. Esta atitude prepotente da ICAR provoca urticária a qualquer um! Há semanas que aqueles senhores de batina bafienta se divertem a remexer esta questão. Já chega! Já se viu que a sua opinão não vai vingar e que, desta vez, ganhou a tolerância.