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Blasfemos

Fui hoje alertada para a existência de um «post» do Blasfémias intitulado «Fundamentalismo anti-cristão e a necessidade de trabalhar as almas». Li imediatamente o artigo, em que é citado o nosso amigo Josemaría Escrivá, e fiquei encucada. Será que o colaborador do blogue queria mesmo citá-lo? Será que era mesmo a sério? Pelos comentários que li, a resposta é claramente afirmativa e, como o texto é dedicado ao Diário Ateísta, não podemos deixá-lo sem resposta.

Mas o que, concretamente, se diz? Primeiro que «os inimigos de Jesus – e alguns que se dizem seus amigos -, cobertos com a armadura da ciência humana, empunhando a espada do poder, riem-se dos cristãos como o filisteu se ria de David, desprezando-o». Não me parece que nós, cavaleiros de armadura científica matemática ou social, desprezemos os católicos. O que desprezamos, isso sim, é a instituição reguladora da sua fé. Porquê? Porque é castradora de qualquer tipo de pensamento independente que ponha em causa os seus axiomas. Na verdade, a nossa atitude não pode ser considerada de desprezo – uma vez que não desconsideramos o fenómeno ICARiano -, mas sim uma luta contra os excessos intolerantes defendidos pela hierarquia da Igreja Católica.

De seguida pode ler-se: «o gigante dessas falsas ideologias [o Golias do ódio, da falsidade, da prepotência, do laicismo, do indiferentismo] pelas armas aparentemente débeis do espírito cristão – oração, expiação, acção -, despojá-lo-emos da armadura das suas doutrinas erróneas, para revestir os homens, nossos irmãos, com a verdadeira ciência: a cultura e a prática cristãs.» Aqui estamos perante uma clara afirmação autista de que a única e verdadeira ideologia é a católica e que quaisquer outros valores estão completamente errados, especialmente aqueles que pugnam pela laicidade. Ora, a verdade e «o certo e o errado» são relativos e a laicidade que defendemos entende exactamente isto na medida em que deixa espaço para os indivíduos, de acordo com a sua livre consciência, decidam por si mesmos.

Josemaría Escrivá e a sua obra, a Opus Dei, representam os valores opostos que devem imperar numa sociedade livre e plural como deve ser a nossa. Esta organização «propõe-se promover, entre pessoas de todas as classes da sociedade, o desejo da plenitude de vida cristã no meio do mundo». Mas que vida cristã? Uma vida recheada de flagelos corporais, alienação da família e outras práticas deveras questionáveis. Uma vida pautada por indicações e interesses que vão para além do espiritual. Uma vida sem liberdade, especialmente de pensamento.

Não, nós não lutamos contra crentes. Nós lutamos para que todos, crentes ou não, tenham a oportunidade de seguir o seu caminho livres e esclarecidos. Se lutar pela Liberdade é fundamentalismo, então, de facto, somos fundamentalistas… orgulhosamente fundamentalistas.

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