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Parasitas da Religião

Será que os ateus precisam de estar sempre a falar da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR)? Da religião? Será que não são parasitas da religião, no sentido em que tanto daquilo que escrevem e dizem gira á volta dela?

A resposta às duas primeiras questões é negativa. A maioria dos ateus não quer saber da ICAR, não pensa no assunto, lembra-se que é ateu quando isso vem a propósito, mas vive a sua vida ignorando as questões religiosas. Por enquanto isso é possível nas sociedades ocidentais, que não sendo completamente laicas, são-no em comparação com as sociedades de outros países menos desenvolvidos.

Esse não é o nosso caso. Nós, naquilo que escrevemos, falamos bastante sobre religião. Isso é porque, além de ateus, somos críticos em relação aos abusos da religião, ao fundamentalismo, à promiscuidade entre as instituições religiosas e o Estado, à superstição em geral, aos ataques ao laicismo e à liberdade. A defesa do ateísmo por si encontra aqui um espaço que gosto de aproveitar. Mas a denúncia e crítica em relação às religiões tem neste blogue toda a pertinência, já que, não sendo um espaço religioso, elas podem fazer-se com toda a liberdade.

Tornar-nos-á essa atitude «parasitas da religião»? Parece-me que a própria pergunta é um disparate. Denunciar os abusos de uma instituição, referindo-a por consequência, reflecte um desejo de mudar a sociedade, e apenas isso. Quem combateu o nazismo era necessariamente um parasita do nazismo? Quem combate o crime, a fraude fiscal, a pobreza, é parasita destes males? Quem combate a ditadura ou a opressão, o racismo, o obscurantismo, será legitimamente considerado parasita da entidade que critica pelas vezes que a refere? Os ecologistas poderão ser considerados «parasitas da poluição» pelo facto de se preocuparem tanto com ela?

Eu não estou a comparar os abusos religiosos aos males referidos, se bem que em certas zonas do globo, e mesmo cá, em certas alturas da história, alguns deles sejam bem comparáveis. Nem sequer dedico à denúncia dos abusos religiosos o esforço que outros dedicaram a combater males mais graves. Mas a ideia de que o facto de alguém se preocupar negativamente com uma entidade significar que a pessoa é «dependente» dessa entidade é uma ideia patética, mas infelizmente comum.

Este Diário é lido por crentes, agnósticos e ateus. Parece-me que a forma mais saudável, da parte dos primeiros, de reagir às denúncias que fazemos, é acompanhar a nossa indignação e distanciar a sua crença dessa situação em concreto. Eu sou livre de discordar: de poder pensar que os abusos decorrem mais facilmente em instituições baseadas naquilo que considero ser superstições, do que noutras instituições com o mesmo poder e importância, com outras formas de controlo. Mas sei que se mais crentes reagissem dessa forma, certamente haveria menos abusos para denunciar. Alguns dos crentes que conheci pessoalmente, com quem tive oportunidade de conversar ocasionalmente, ou que nos visitam, reagem dessa forma que considero louvável. Outros não.

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