À conquista da Nação
Depois da iniciativa «A Bíblia Manuscrita Jovem» (veja os textos de 21 e 23 de Março e o comunicado de imprensa da Associação República e Laicidade sobre o assunto), que ocupou 50.000 pessoas – professores, alunos e funcionários incluídos – de mais de duzentas escolas, na próxima sexta-feira, o projecto «A Bíblia Manuscrita» será alargado a todo o país.
A primeira actividade copista já tinha dado uma facada na laicidade do Estado ao ter como alta patrocinadora a senhora dona Mariana Cascais, então Secretária de Estado da Educação, ao instalar-se em escolas públicas (que não devem dar um tratamento de preferência a qualquer religião) e a ocupar tempo curricular de disciplinas que não são de Educação Religiosa. Agora, a gala de abertura da globalização da cópia bíblica será presidida pelo Presidente da República, que será o primeiro a manuscrever os duas ou três frases da Bíblia, devidamente acompanhado pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, o reitor da Universidade de Lisboa, José Barata Moura, e o presidente do Tribunal Constitucional, Artur Maurício. Estranhamente – e entrando no domínio obscuro das cabalas e das teorias da conspiração – a actual Ministra da Educação, Maria do Carmo Seabra, é irmã do padre Seabra Sinto-me sempre com urticária intelectual cada vez que vejo um representante do Estado Português e da magistratura, ambos laicos, em cerimónias exclusivamente religiosas e representantes da Igreja em cerimónias civis. É uma ofensa a todos nós, ateus ou não.
Antes da sessão de transcrição, será dado um concerto sob o nome de «Música e Escrituras», em que as receitas reverterão a favor da organização não-governamental de cooperação e desenvolvimento da Oikos. Daí, as verbas vão ser aplicadas a projectos de financiamento da auto-subsistência de famílias de Moçambique e do Peru. Assim, todos se podem sentir bem por já terem feito um pouco de caridadezinha.