Loading

Mês: Outubro 2004

5 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Viva a República

Viva o 5 de Outubro

Fizeram mais pela liberdade os homens, num só dia, do que Deus desde sempre.
4 de Outubro, 2004 jvasco

O Corão anotado do Céptico

Já tive várias oportunidades de fazer neste espaço alguma publicidade à Bíblia anotada do Céptico: um excelente trabalho que mostra toda a Bíblia com as suas contradições doutrinais, narrativas e históricas, as suas contradições com os valores politicamente correctos, o seu sexismo e homofobia, as suas falsas profecias, etc… A página em questão está muito bem organizada, e vai sendo enriquecida com o tempo, pelo que vale a pena ir espreitando de vez em quando.

Foi por isso mesmo, aliás, que descobri uma excelente adição: o Corão anotado do Céptico. Ainda não está tão completo como a Bíblia anotada do céptico, mas já proporciona argumentos suficientes para demonstrar que este «livro sagrado» também está repleto de erros, contradições, incoerências, sexismo, homofobia e valores anacrónicos.

4 de Outubro, 2004 Ricardo Alves

Comemorar a implantação da República, amanhã

Amanhã, celebrar-se-á o nonagésimo quarto aniversário da Revolução de 5 de Outubro de 1910.

Não faltam alguns, mesmo muito à esquerda, achando que nada haverá a comemorar de uma data que resumem ao fim da monarquia, e que responsabilizam (erradamente) pela ditadura de 1926 e até por uma lendária «perseguição à Igreja Católica». Enganam-se.

1) A República não «perseguiu» a ICAR, a menos que se considere perseguição o ter retirado aos padres o estatuto de funcionários públicos (embora concedendo-lhes pensões generosas), o retirar o ensino da religião do ensino público (que hoje deveria voltar a decretar-se…), instituir o registo civil obrigatório e o divórcio (que destruíram tanto a «família» como o casamento de homossexuais o fará), a abolição dos juramentos religiosos ou a liberdade de consciência e de culto para todos e não apenas para os católicos.

Algumas medidas dos primeiros governos republicanos (como a expulsão dos Jesuítas) poderão parecer, hoje, excessivas (e sê-lo-iam hoje). No entanto, à época a ICAR era bem diferente do que é actualmente. Era ainda a ICAR ultramontana que recusava quer a República, quer a Democracia, quer a Laicidade. E que esteve na oposição activa à República. A ICAR só viria a mudar (e relativamente…) com o Concílio Vaticano 2º.

2) A obra da 1ª República, muito dificultada por uma oposição violenta de monárquicos e católicos que nunca deixaram o regime estabilizar-se, foi também muito mais de enaltecer do que aquilo que os manuais do Estado Novo diziam (e que hoje é repetido acriticamente por muitos!): a fundação de universidades (como o IST); a reorganização da actividade colonial; o direito à greve; o equilíbrio das contas (Afonso Costa conseguiu quase sempre orçamentos superavitários até à guerra). Pergunta o leitor mais desconfiado: então a República caiu porquê? Em boa verdade, a partir de 1918 quase todos os regimes democráticos da Europa foram ameaçados ou caíram, geralmente às mãos daqueles a que hoje chamamos fascistas, e que na ibéria se apoiaram muito claramente na ICAR.

Poucos dias depois de um Parlamento democrático ter aprovado uma Concordata com a ICAR, e porque, portanto, faz todo o sentido continuar o combate dos republicanos de 1910, nós, os que não partilhamos a visão salazarista/católica da Revolução de 1910, pensamos que faz todo o sentido comemorarmos a República.

A Associação República e Laicidade estará presente, às 10 horas e trinta minutos, junto à estátua de António José de Almeida, e posteriormente na deslocação aos túmulos dos caídos na implantação da República e num almoço no Centro Republicano Almirante Reis, às 13 horas e trinta minutos.

3 de Outubro, 2004 André Esteves

Planeta dos cristãos

Às vezes tenho pesadelos que este seja o futuro que nos espera.

3 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

A azia do bispo Marcelino

D. António Baltasar Marcelino, bispo de Aveiro, suspeito de ser progressista, boato que lhe valeu a animosidade dos crentes mais reaccionários e influentes da diocese da Guarda, que o vetaram quando da sua alegada indigitação, vem revelando nas páginas do Primeiro de Janeiro um proselitismo incompatível com a sociedade plural que só a separação da Igreja e do Estado garantem.

No artigo de 3 de Outubro, sob o título «Afinal, Estado Laico significa portas abertas ao laicismo?», D. António, após algumas diatribes contra os parlamentares portugueses, direito que um Estado laico lhe consente – e bem -, mas que sua Ex.a Rev.ma não estimaria contra a Conferência Episcopal, manifesta uma enorme animosidade às leis que se afastam da visão clerical.

O Sr. Bispo devia lembrar-se da tragédia portuguesa, igual à de tantos países, sempre que o trono e o altar deram as mãos; ter presente o meio século de ditadura que a ICAR caucionou, com tão poucas e honrosas excepções; recordar o combate sem tréguas que moveu à lei da separação da Igreja e do Estado e à do Registo Civil Obrigatório, leis que anunciaram o dealbar da modernidade protagonizada pela República; repudiar a patética oposição ao ministro Salgado Zenha quando este legalizou o divórcio de cônjuges casados canonicamente; e, sobretudo, olhar para o exemplo actual das teocracias muçulmanas com o seu cortejo de horrores a lembrar a Idade Média onde o cristianismo fomentou as Cruzadas e a Inquisição.

É, pois, com perplexidade que vejo o bispo condecorado com a Grã Cruz da Ordem de Mérito, outorgada quando da celebração das suas bodas de prata episcopais, a indignar-se com a liberdade de imprensa que critica leis porque «não são tão laicas como deviam ser, não estão em sintonia com as leis dos países mais avançados da Europa». Quando condena as leis por serem «dissonantes da nossa cultura e tradição e, por isso mesmo, dos interesses nacionais», o Sr. Bispo esquece a tradição autoritária e repressiva da matriz católica que lhe serve de paradigma. Felizmente rompemos com a tradição, ainda que isso custe à Igreja católica e cause azedume aos seus bispos. Finalmente quando afirma que «O laicismo tem-se infiltrado nas mentalidades e traz no seu bojo o complexo do medo, que o torna, progressivamente, atrevido, agressivo e pouco racional», não estará a referir-se ao clericalismo que na véspera conseguiu uma vitória indecorosa com a aprovação da Concordata? Os privilégios deviam fazer corar de vergonha a Igreja e de remorso os deputados que a aprovaram de joelhos e mãos postas, com despudorado desprezo por ateus, agnósticos e crentes de outras religiões cujos direitos são iguais numa sociedade democrática.

Afinal as portas abertas ao laicismo deixam entrar e respirar a democracia e as portas escancaradas aos Estados confessionais transformam os cidadão em bandos de beatos e assassinos, como o exemplo dos países islâmicos tragicamente ilustra.

3 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Canonização dos pastorinhos

«Já temos o milagre que faltava»

(Declarações do padre Luís Kondor, à revista «notícias magazine», de hoje).


O Diário Ateísta vê assim confirmadas as suas informações, dadas aos leitores ao longo dos últimos meses.

O padre Kondor foi incumbido em 1960 pela Congregação do Verbo Divino, a que pertence, da difícil missão de vice-postulador para a causa dos pastorinhos, cargo que acumulou com o de vice-reitor do santuário de Fátima. Hoje, 44 anos depois, já conseguiu a criação de dois vice-santos (beatos Francisco e Jacinta Marto) e está em vias de obter a promoção que lhes falta para a canonização.

Entretanto conseguiu revogar as normas de Pio XI que não autorizavam crianças a fazer milagres, autorização concedida por JP2 em 1979, o que permitiu a carreira de santidade reservada aos grandes obreiros da conversão da Rússia e divulgadores de um divertido passatempo – o terço.

3 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Beatificações e canonizações

Vaticano beatifica hoje Carlos I da Áustria, o Santo Imperador

As beatificações e canonizações são a doença senil deste pontificado. Carlos I, o último imperador dos Habsburgos austríacos – Carlos IV, entre os reis da Hungria – teve um milagre reconhecido pelo Vaticano e vai ser hoje beatificado.

Aos 34 anos Deus, por gostar tanto dele, chamou-o à sua divina presença, quando se encontrava na Madeira exilado, depois de ter sido obrigado a abdicar, após a queda do império austro-húngaro, altura em que Deus não lhe valeu.

Nos dez anos de vida matrimonial a mulher, Princesa Zita de Borbone-Parma, teve oito filhos, motivo suficiente para Deus se ter condoído da desgraçada e enviado uma «gripe com localização bronco-pulmomar» ao perigoso reprodutor.

« O milagre aprovado pela Santa Sé é referente a um facto ocorrido com uma religiosa polaca, a Irmã Maria Zita Gradowska, das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Em 1944, com 50 anos, foi atingida por uma tromboflebite na perna direita. Dez anos depois o mesmo episódio aconteceu na perna esquerda. As dores impediam qualquer movimento. Nos últimos dias de Dezembro de 1960, a Irmã, aconselhada por uma outra religiosa a fazer uma novena pedindo a cura, invocou o Servo de Deus Carlos de Áustria. Depois de algumas horas de sono acordou sem dores e foi sozinha para a capela rezar com as outras irmãs. A ferida sarou, começou a andar, e até ao fim da sua vida em 1989, não sofreu mais nenhuma dor, morrendo com 95 anos».

O novo beato mereceu a distinção por vários motivos:

1 – Estava morto na Madeira e fez o milagre na Polónia;

2 – Fez o milagre na pátria do Papa e numa freira;

3 – O milagre durou quase 29 anos;

Claro que Deus,se regulasse bem da cabeça, escusava de ter mandado a doença à freira. Era mais fácil do que curá-la. E se o Papa não estivesse senil talvez não fizesse dos católicos parvos. JP2 está a precisar de um milagre para si.

2 de Outubro, 2004 jvasco

Madre Teresa

Em 19 de Outubro de 2003, Madre Teresa de Calcutá foi beatificada.

Madre Teresa de Calcutá tinha algumas opiniões polémicas. Considerava, por exemplo, que nem em caso de violação deveria ser permitido o aborto, caracterizando-o como «o maior mal, e o maior inimigo da paz».

Madre Teresa de Calcutá também estabeleceu algumas relações duvidosas, como é o caso de Jean-Claude Duvalier (um ditador a quem Madre Teresa elogiou a forma como «ama os pobres»); Charles Keating (que roubou 252 milhões de dólares no escândalo das poupanças e empréstimos, mas que doou 1.25 milhões para a ordem de Madre Teresa) ou até Robert Maxwell (que roubou 450 milhões de libras dos fundos de pensão dos seus empregados).

Mas uma das coisas mais questionáveis em Madre Teresa é a sua motivação. Em 1981, Madre Teresa disse numa conferência de imprensa: «Eu acho que é muito belo os pobres aceitarem a sua miséria, partilhar a paixão de Cristo. Eu acho que o mundo está a ser muito ajudado pelo sofrimento dos pobres». Apenas poucas centenas de pessoas são ajudadas, mesmo na maior das casas da ordem de Madre Teresa. A título de comparação, A Assembleia de Deus (protestante) serve 18000 refeições apenas em Calcutá, que é mais do que todas as casas da ordem de Madre Teresa juntas. Nenhuma das infra-estruturas em Nova-Guiné (há oito), por exemplo, tem qualquer residente, sendo exclusivamente para converter as pessoas ao Catolicismo.

Questionável também é o destino das doações feitas à ordem. Madre Teresa recusava-se a comprar equipamento médico. O dinheiro, mesmo aquele que era doado especificamente para caridade, era transferido para o Vaticano para uso geral.

Madre Teresa nunca permitiu o conhecimento das contas da sua ordem, excepto quando a tal foi obrigada por lei.

Obtive estas informações na entrada sobre Madre Teresa da Wikipedia.

1 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

A ICAR mente

Sob o título «Crer em Deus continua a ser motivo de perseguição e morte» o Diário de Notícias de hoje, em artigo de Licínio Lima, refere um relatório da ICAR «dando conta que nos quatro cantos do mundo ainda se assiste a perseguições e mortes por motivos confessionais». Sendo verdade, trata-se de uma mistificação. Não é a crença em Deus que atrai a perseguição, é a crença num deus concorrente. Não é a fé que se persegue, é a liberdade. É, de facto, como sempre foi, uma manifestação da vocação totalitária das religiões que não toleram a diferença. Todas têm um deus verdadeiro e a obrigação de erradicar os falsos ídolos. Converter os que andam errados à verdadeira fé é o desígnio dos crentes que aspiram ao Paraíso. Quando estão em minoria são subservientes e hipócritas, quando se tornam maioria transformam-se em autoritários e violentos. Esse é o problema que a laicidade do Estado atenua e a apostasia resolve.

A história da ICAR confunde-se com a actualização permanente das mentiras que mais lhe convêm. A sua técnica é minimizar e branquear os factos que a comprometem e exaltar e sublinhar os que mais a glorificam.

Constantino enjeitou dezenas de evangelhos e seleccionou os quatro mais úteis e menos contraditórios que, após sucessivos aperfeiçoamentos e piedosas falsificações, se transformaram em livros sagrados, mas o tempo encarregou-se de os tornar obsoletos. As recomendações anacrónicas e violentas podem continuar a reflectir a vontade de Deus mas deixaram de entusiasmar as pessoas de mente sã. O paradigma da civilização que floresceu em países cristãos, tantas vezes em conflito aberto com a vontade divina, afastou-se da Bíblia. É por isso que até o clero repudia hoje, em nome da civilização, o que devia defender em nome da ortodoxia.

A ICAR, ao recusar o progresso e a justiça, ao exaltar o sofrimento e glorificar a morte, ao aliar-se às ditaduras contra a democracia, alienou sistematicamente quem se revê nos ideais da Revolução Francesa que tão ferozmente combateu e que, mais de dois séculos depois, ainda deplora.

Enquanto os livres-pensadores buscam os caminhos da paz e da liberdade, a ICAR não desiste de transformar o mundo num bando de beatos, tímidos e idiotas, prontos a derramar o sangue por um Deus cruel. As religiões – todas as religiões – precisam de uma revisão que lhes reduza o consumo de sangue por cada 100 anos de história percorridos. Melhor ainda era declararem falência e fecharem os estabelecimentos. Basta de tanta amargura em nome de um deus sanguinário.

Os ateus amam a vida e buscam a felicidade, os crentes adoram a morte e exaltam o sofrimento. Talvez por isso, a ICAR é muito lesta a reivindicar mártires e demasiado lenta a reconhecer as suas vítimas.