13 de Outubro, 2004 André Esteves
Mais um 13 de Outubro
Mais um treze de Outubro, mais um dia em que Portugal inexoravelmente se autodestroi.
Duas vezes por ano, assistimos neste país ao espectáculo deplorável das peregrinações a Fátima. As televisões fazem directos. Os programas de «conversa da chacha» enchem-se de padres, beatos e mentecaptos. As matronas na cozinha, choram e levantam o rosários, sempre variando a dose de emoção teletransmitida do espectáculo televisivo diário, das histerias, do maldizer e coscuvilhice.
Nos directos de Fátima, vemos o feio, o porco e o mau. Tornaram-se tão indispensáveis à ecologia mental católica, como os homens de uniforme eclesiástico, sempre impecável, com peles cuidadas, portes saudáveis, faces simpáticas e sedutoras.
Ouço um desses exemplares na SIC, repetir, num discurso confuso, em cada frase as palavras Fátima e Esperança. As caras aparvalhadas da plateia, batem palmas quando se cala. De seguida, um autêntico extraterrestre eclesiástico, com um uniforme sofisticado de um passado que nunca existiu, afirma em voz de barítono, que a fé é como um dia em que o sol está por detrás das nuvens, e que pela fé sabemos que o sol está lá… Nova salva de palmas…
O meme está passado, confundiu-se o facto com a hipótese.
É assim.. Já não há jornalistas a sério em Portugal, seguem todos as recomendações do Vaticano II, e do aproximar da ICAR aos meios de comunicação, por estes terem uma «vocação evangélica».
As televisões repetem o fait-diver do prof. Marcelo. Reclama-se por liberdade de expressão. Mentiras por mentirosos que mentem.
Desde a morte do bispo de Viseu que muita coisa mudou na comunicação social em Portugal.
Há um cheiro podre a tirania no ar.