A ICAR mente
Sob o título «Crer em Deus continua a ser motivo de perseguição e morte» o Diário de Notícias de hoje, em artigo de Licínio Lima, refere um relatório da ICAR «dando conta que nos quatro cantos do mundo ainda se assiste a perseguições e mortes por motivos confessionais». Sendo verdade, trata-se de uma mistificação. Não é a crença em Deus que atrai a perseguição, é a crença num deus concorrente. Não é a fé que se persegue, é a liberdade. É, de facto, como sempre foi, uma manifestação da vocação totalitária das religiões que não toleram a diferença. Todas têm um deus verdadeiro e a obrigação de erradicar os falsos ídolos. Converter os que andam errados à verdadeira fé é o desígnio dos crentes que aspiram ao Paraíso. Quando estão em minoria são subservientes e hipócritas, quando se tornam maioria transformam-se em autoritários e violentos. Esse é o problema que a laicidade do Estado atenua e a apostasia resolve.
A história da ICAR confunde-se com a actualização permanente das mentiras que mais lhe convêm. A sua técnica é minimizar e branquear os factos que a comprometem e exaltar e sublinhar os que mais a glorificam.
Constantino enjeitou dezenas de evangelhos e seleccionou os quatro mais úteis e menos contraditórios que, após sucessivos aperfeiçoamentos e piedosas falsificações, se transformaram em livros sagrados, mas o tempo encarregou-se de os tornar obsoletos. As recomendações anacrónicas e violentas podem continuar a reflectir a vontade de Deus mas deixaram de entusiasmar as pessoas de mente sã. O paradigma da civilização que floresceu em países cristãos, tantas vezes em conflito aberto com a vontade divina, afastou-se da Bíblia. É por isso que até o clero repudia hoje, em nome da civilização, o que devia defender em nome da ortodoxia.
A ICAR, ao recusar o progresso e a justiça, ao exaltar o sofrimento e glorificar a morte, ao aliar-se às ditaduras contra a democracia, alienou sistematicamente quem se revê nos ideais da Revolução Francesa que tão ferozmente combateu e que, mais de dois séculos depois, ainda deplora.
Enquanto os livres-pensadores buscam os caminhos da paz e da liberdade, a ICAR não desiste de transformar o mundo num bando de beatos, tímidos e idiotas, prontos a derramar o sangue por um Deus cruel. As religiões – todas as religiões – precisam de uma revisão que lhes reduza o consumo de sangue por cada 100 anos de história percorridos. Melhor ainda era declararem falência e fecharem os estabelecimentos. Basta de tanta amargura em nome de um deus sanguinário.
Os ateus amam a vida e buscam a felicidade, os crentes adoram a morte e exaltam o sofrimento. Talvez por isso, a ICAR é muito lesta a reivindicar mártires e demasiado lenta a reconhecer as suas vítimas.
Perfil de Autor
- Ex-Presidente da Direcção da Associação Ateísta Portuguesa
- Sócio fundador da Associação República e laicidade;
- Sócio da Associação 25 de Abril
- Vice-Presidente da Direcção da Delegação Centro da A25A;
- Sócio dos Bombeiros Voluntários de Almeida
- Blogger:
- Diário Ateísta http://www.ateismo.net/
- Ponte Europa http://ponteeuropa.blogspot.com/
- Sorumbático http://sorumbatico.blogspot.com/
- Avenida da Liberdade http://avenidadaliberdade.org/home#
- Colaborador do Jornal do Fundão;
- Colunista do mensário de Almeida «Praça Alta»
- Colunista do semanário «O Despertar» - Coimbra:
- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;
- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores
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