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Mês: Setembro 2004

13 de Setembro, 2004 André Esteves

Cover-up pedófilo pelo cardeal Sodano?

Sete padres americanos fugidos das suas paróquias, foram descobertos pelo jornal Dallas News a trabalhar e a oficiar em Roma. Pelo menos dois deles, foram reclamados de volta pelos seus bispos para serem investigados pela polícia americana. O pedido realizado ao Cardeal Sodano, prior da Opus Dei e número dois do Vaticano foi ignorado, tendo as cartas com o pedido, sido remetidas de volta com o carimbo »Devolver ao remetente».

Claro que devemos presumir uma certa inocência do bom cardeal. Um homem cujo magistério na Opus Dei exige a excelência no trabalho! Muitas cartas perdem-se.

No máximo, ele deverá ser da mesma opinião de D. Marcelino, bispo de Aveiro, veiculada numa entrevista há uns meses no jornal Diário de Aveiro, de que o problema pedófilo na ICAR americana, não passava de uma conspiração dos judeus através dos jornais…

A notícia [Inglês]

13 de Setembro, 2004 Ricardo Alves

É grave

O Carlos Esperança publicou há tempos um texto em que referia a atitude complacente (senão de encobrimento activo) da ICAR perante os casos de abuso sexual de menores em que estão implicados padres. Não faltaram os católicos, visitas habituais das caixas de comentários, que protestaram. Referi na altura que existia um documento secreto do Santo Ofício exigindo o segredo absoluto nestes casos. Puseram em dúvida a existência de tal documento. Está aqui.

Lido o documento, fica claro que a ICAR entende que o abuso sexual cometido por um sacerdote (sobre menores ou não) não deve ser denunciado às autoridades civis. Deve apenas ser tratado internamente, e no maior secretismo. Efectivamente, tais casos são considerados «segredos do Santo Ofício» que não podem ser revelados sob pena de excomunhão (parágrafo 11). Os defensores, juízes e testemunhas do processo fazem um juramento que os obriga ao silêncio absoluto sobre o processo excepto se o Santo Ofício ou o Sumo Pontífice os desobrigarem (Anexo). Além disso, as denúncias devem ser efectuadas até um mês após o abuso sexual (parágrafos 15 a 19) e os documentos do processo devem ser destruídos se o tribunal do Santo Ofício concluir que a acusação é falsa (parágrafo 42). O juiz do Santo Ofício deve exortar o acusado à confissão, mas não o pode comprometer a dizer a verdade por intermédio de um juramento (parágrafo 52)!

Tudo isto é muito grave, mas esclarece porque a ICAR se tem revelado incapaz de punir padres pedófilos. O entendimento é claramente o de que a lei canónica (a de «Deus» via ICAR) está acima das leis civis. Um padre que saiba de um colega que abusa sexualmente de menores é encorajado a nada revelar à polícia, e se tomar parte no processo fica mesmo sujeito à pena de excomunhão se falar. O prazo (ridiculamente curto) de um mês para a realização de uma denúncia protege igualmente os padres contra crianças abusadas que habitualmente só no final da adolescência ganham coragem para denunciar estas situações.

A ICAR tem colégios e instituições de solidariedade social protegidas e financiadas pelo Estado. As famílias que lá colocam as suas crianças deveriam ser informadas do «código deontológico» interno da ICAR. E o facto de a Concordata estipular que os padres podem legalmente não revelar os crimes de que tomem conhecimento durante a confissão (artigo 5º da nova Concordata) é particularmente grave à luz destes factos.

13 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Funeral de Estado

A reportagem do Expresso sobre o funeral do ilustre cidadão Dr. Nunes de Almeida, presidente do Tribunal Constitucional (TC) e, nessa condição, a quarta figura do Estado, levanta muitas dúvidas e alguma perplexidade:

– Em primeiro lugar, ser considerado pelo Presidente da República o local apropriado para um funeral de Estado, a que o defunto tinha direito, um templo católico e, no caso, a Basílica da Estrela;

– O facto de a referida basílica ser propriedade da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), donde se pode concluir que o Estado, para prestar as honras devidas, não tem casa própria;

– A possibilidade de ser dificultada ou impedida a realização de cerimónias maçónicas para cumprimento do desejo manifestamente expresso pelo defunto;

– Poder o Patriarca impedir o elogio póstumo, a fazer pelo vice-presidente do TC, como solicitado pela família, inclusive na área da capela mortuária;

– A proibição do enterro católico, como retaliação da cerimónia maçónica.

Em meu entender, a proibição do enterro católico não podia ser o efeito da retaliação do Patriarca pela cerimónia maçónica, mas um acto de respeito por quem, seguramente, se não revia na religião proprietária do templo.

O cidadão Nunes de Almeida não foi poupado à leitura de uma passagem do Evangelho pelo padre Melícias, de quem era amigo, nem a um «pai-nosso», mas livrou-se da missa, de que não era frequentador, e da «encomendação da alma».

Pela minha parte não se livra do respeito e consideração que lhe devoto pelo que a democracia e a jurisprudência constitucional ficam a dever-lhe. Preocupa-me, todavia, a promiscuidade entre o Estado e a ICAR trinta anos depois de Abril. A República não encontra o tom certo para um país laico.

12 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Notas piedosas

Reguengos de Monsaraz – A devoção autóctone atingiu o êxtase com o abate de um touro preso ao muro da arena, um acto de diversão em honra do Nosso Senhor Jesus dos Passos, patrono das festas religiosas que conduziram à imolação do animal. Em Roma largavam-se feras contra os cristãos – diz a lenda – hoje largam-se cristãos contra as feras, como se vê.

Igreja Ortodoxa – O patriarca grego de Alexandria e de toda a África, Pétros VII, morreu ontem no mar Egeu onde se despenhou o helicóptero em que viajava com outras 16 pessoas. Ou o helicóptero estava benzido e foi inútil ou não estava e foi incúria. Eis um caso típico de acidente onde não se sabe se as pessoas vão para ao céu, mas há a certeza de que caíram do céu.

ICAR – Na sequência da evocação do acto terrorista de 11 de Setembro de 2001, JP2 recebeu bispos americanos a quem informou de que rezava pelo fim do terrorismo. Se o Papa tem provas da eficácia da oração deve aumentar a frequência, duração e intensidade das rezas. Se não tem provas deve abster-se de intrujar os crédulos.

12 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Bispos e liberdade

Um artigo recente da Mariana Pereira da Costa refere os ataques do arcebispo de Pamplona, D. Fernando Sebastián, ao processo de laicização em curso, em Espanha.

O dever cívico e político de conceder a cada espanhol o direito de ter qualquer religião ou de não ter, provoca o azedume do arcebispo que duvida da modernidade da laicidade. A atitude não mereceria atenção se o arcebispo Fernando Sebastián fosse um mero epifenómeno de uma Igreja convertida à democracia, mas, desgraçadamente, é um bispo típico da ICAR espanhola, que apoiou com entusiasmo o franquismo e os seus crimes e não se resigna à perda de privilégios.

Afirmar que «a legislação deve conter referências a Deus e à lei divina» é um desafio ao Estado, que legitimamente devia exigir à «lei divina» referências aos direitos do Homem. Mas a «lei divina» ignora a liberdade e os seus intérpretes odeiam-na.

A tolerância não é apanágio de nenhuma religião, nem os livros sagrados (Tora, Bíblia, Corão) consentem o pluralismo, aceitam os direitos do Homem ou permitem o livre pensamento. Não se encontra em qualquer deles a mínima referência ou, sequer, complacência para com a liberdade ou o exercício de quaisquer direitos cívicos. A igualdade entre o homem e a mulher, o direito de voto, a liberdade de renunciar a uma religião para aderir a outra ou de se libertar da fé, são direitos que não se adquirem com a ajuda das religiões mas contra elas.

A democracia é a forma de Governo conseguida a partir da separação da Igreja e do Estado, execrada por clérigos de todas as religiões, abominada pelos papas, odiada por crentes, combatidas pelos que exigem sobrepor a vontade de Deus à dos homens. Nenhum livro sagrado expurgou os interditos que envergonham as sociedades modernas e tornam os homens e as mulheres infelizes. Malditos livros.

11 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Crónica Piedosa

A PRIMEIRA COMUNHÃO:

Meio século depois vêm-me à memória as doces catequistas da minha infância. A menina Aurora e a sua Tia Ricardina ambas solteiras de muitos anos e beatas de quase tantos outros. Lembro-me do fervor com que me ensinaram a odiar os judeus porque mataram Cristo, os maçons porque perseguiam a igreja e os comunistas porque eram ateus. Recordo o entusiasmo que punham nas orações para que Deus iluminasse os nossos governantes e lhes desse longa vida, apelos ouvidos apenas no que diz respeito à segunda parte.

Nas aulas de doutrina explicavam-me a cor do firmamento, ao pôr do sol, como sendo o sinal de que os comunistas iam matar os cristãos, conforme a Irmã Lúcia tinha revelado, e eu, tão estúpido, que não deixava de ser cristão, com maior medo do Inferno e das suas labaredas, onde apenas se ouviam gritos e ranger de dentes, do que da morte que os ditos comunistas me preparavam.

Penso que era o medo da revelação do 3.º segredo de Fátima que me toldava a razão e me deixava manietado para outras reflexões. Sabia que Deus estava muito zangado, do mesmo modo que toda a gente o sabia, por ouvirmos dizer, bem entendido, e que devíamos rezar o terço para lhe aplacar a ira contra os que não eram crentes mas, não sei porquê, quem pagava éramos nós, talvez por Ele não ter jurisdição nos que não acreditavam, mas isso não podia ser porque Deus era omnipotente, eu só não percebia a obsessão da nossa parte em assumirmos culpas alheias e fazer pagamentos por conta, o motivo de termos de expiar os pecados alheios, isso na época não me admirava, havia muita solidariedade, eram grandes os sentimentos que nos animavam e nobres as devoções a que nos dedicávamos. Assim salvássemos a nossa própria alma de ser frigida no azeite das profundezas, combustível de sabor mediterrânico que alimentava os meios de produção da eterna justiça a cujo suplício estavam destinados os condenados.

Valia-me a certeza de fazer parte dos poucos, poucos é a gente a falar pois na aldeia eram todos, que podiam aspirar à bem-aventurança eterna. A nossa religião era a única que conduzia à salvação, todos os outros estavam errados e faziam muito mal em não se converter. A Santa Madre Igreja, Católica, Apostólica, Romana, estava aberta, nunca compreendi como é que podia haver quem se negasse à conversão e ao caminho da santidade que lhe eram oferecidos, como é que alguém podia duvidar de que o papa fosse o sucessor de Pedro e o representante de Cristo na Terra bem como serem os Senhores Bispos os sucessores dos Apóstolos! Como era possível que os judeus se não arrependessem de ter assassinado Jesus Cristo e persistissem no erro, que os moiros teimassem em permanecer infiéis, vá-se lá perceber a razão de ser mais fácil persistir no erro do que aceitar a salvação. Era tão difícil o entendimento, sobretudo a quem não conhecia a outra parte, e ainda bem, pois era dever de um cristão converter os outros ou, se eles o não quisessem, usar meios adequados para livrá-los do erro.

Por sua vez o Sr. Padre, depois da me ter examinado e aprovado no exame da catequese, declarou-me em condições de iniciar os preparativos para a primeira comunhão. De novo as catequistas se encarregaram de me preparar para a desobriga que a precedia. Foi durante a confissão que, genuflectido, depois de uma oração preliminar, me convidou a contar-lhe os pecados. Esforcei-me por me recordar das vezes que tinha posto o dedo na malga da marmelada sem saber se de um só pecado, repetido, se tratava ou de tantos quantas as incursões no vaso onde se guardava uma guloseima castanha e muito doce à espera de tentar uma criança. Dava voltas à memória para saber se tinha alguma vez mentido, se tinha maus pensamentos – e isso tinha – pensava em partir o pião dum colega acertando-lhe com o ferrão do meu, se tinha pecado por palavras ou obras, indiscutível matéria de reflexão e arrependimento, pois eu conhecia palavras feias que não cabia a um cristão pensar e muito menos pronunciar. Mas não era disso que cuidava o Sr. Prior na longa confissão, que eu entendi como proporcional à dimensão dos pecados ou, na melhor das hipóteses, como deferência para com o filho da Sr.ª Professora, mas eu não pensava nesta possibilidade, pois as crianças não são sensíveis à deferência nem à divisão em castas. O reverendo cuidava saber se eu praticava o pecado solitário, maldade de cujo ensinamento o medo que as outras crianças tinham da professora me havia até então livrado, e, perante a minha ignorância, preveniu-me piedosamente por antecipação, antes é que vale a pena não é depois do mal feito, preveniu-me – dizia – dos riscos da cegueira a que podia conduzir-me esse pecado, risco que me afligia bastante, bem como da tuberculose que, apesar da gravidade à época, eu não estava em condições de avaliar.

Perguntou-me ainda se eu fazia marranices, palavra com que acabava de me enriquecer o léxico, o que me deixou perturbado por ser um pecado que eventualmente eu cometesse sem saber, possibilidade de elevado grau de probabilidade pois aos pecados confessados não fora dada importância e aos pecados desconhecidos era dada uma particular e desvelada atenção, aumentando-me a ansiedade e sentimento de culpa, tanto maior quanto mais profunda era a minha ignorância. Explicou-me que o dito pecado era pôr-me em cima das raparigas e fazer zumba, zumba, zumba… e ficou ali a repetir a palavra algum tempo, como se tivesse esquecido o que estava a dizer, até ter recuperado a tranquilidade e ter-me mandado rezar o acto de contrição, que eu tinha na ponta da língua, completamente desinteressado já dos pecados de que eu carecesse de aliviar-me para salvação da alma.

Levei ainda de penitência uns tantos pai-nossos e avé-marias, coisa de pouca monta que me levou a acreditar que os pecados não eram tão pesados nem difíceis de expiar como eu tinha imaginado. A penitência foi cumprida nessa noite antes de adormecer, ansioso pela chegada da meia-noite, hora canónica a partir da qual não podia tomar qualquer alimento sólido ou líquido antes da comunhão onde ia receber pela primeira vez o corpo de Nosso Senhor que, não sei como, cabia numa rodela finíssima de pão ázimo sem fermento nem sal, ainda por cima partida em pedacinhos de que só me coube uma insignificância, de paladar péssimo, que não podia tocar com os dentes, não fosse morder o Senhor, e aquilo colou-se-me ao palato e eu tinha medo de levar lá a língua que podia incomodar Nosso Senhor, que devia ser muito susceptível, e eu a debater-me com aquele pedacinho de farinha que teimava em não se desfazer, mais parecia borracha com cola, mas que eu bem sabia que tinha um alto valor nutritivo como alimento da alma, embora me não desse conta, mas disso estava prevenido pela menina Aurora e pela sua Tia Ricardina, bem como pelo Sr. Prior que na véspera veio pela segunda vez examinar-nos e confirmar a nossa preparação para recebermos Nosso Senhor. Quem não estivesse preparado não era digno, eu era, por ser o melhor aluno da catequese, mas pareceu-me que os menos preparados se deram melhor com a sagrada partícula de que se aliviaram mais cedo do que eu e, de qualquer modo, não tinha havido reprovações.

Não sei se a comunhão me purificou a alma, mas sei que me estimulou o apetite. Foi com uma fome imensa que assisti ao fim da cerimónia da santa missa sem me dar conta que a gula, que começava a devorar-me, era obra do demo que aguardava, para tentar-me, provavelmente possesso, se é que o demónio pode estar possuído dele próprio, ou talvez desesperado na luta quotidiana entre o bem e o mal, qual lutador que não se resigna a atirar a toalha ao ringue, mesmo quando o combate é desigual, quando a alma se tonifica pela oração, penitência e comunhão que são poderosos demonífugos que obrigam o mafarrico a redobrados trabalhos para não perder a quota de mercado a que se julga com direito.

Antes de correr para casa em busca de vitualhas com que pudesse saciar a fome de dezasseis horas de jejum não me esqueci de me persignar, depois de ter molhado de água benta os dedos, mergulhados na pia de pedra que saía da parede ao lado da porta da igreja, água que, apesar do aspecto, pelas propriedades intrínsecas, havia de ser um poderoso desinfectante para as moléstias da alma e um profiláctico precioso para as tentações que o demo, na sua permanente vigilância e incansável dedicação ao trabalho, não deixaria de fazer.

E eu conhecia o segredo da água benta por tê-la visto preparar pelo Sr. Padre que se paramentou de propósito e transformou um cântaro de água vulgar na dita água benta através das modificações induzidas pelas rezas que acompanharam os sinais cabalísticos, cruzes imaginárias desenhadas no ar, por cima do dito cântaro, enquanto alguns garotos seguíamos com o olhar os tais sinais para ver quando se dava o salto dialéctico, isto é, a mudança da quantidade em qualidade, ou seja a mudança da água vulgar em benta, sem sabermos ao tempo o que era isso de salto dialéctico, mas sabendo reconhecer a diferença entre uma e outra, o que era muito mais importante para a eternidade a que não podemos fugir, e bem mais decisivo para a salvação da alma, que estas sociedades modernas querem fazer crer tratar-se de anacronismo, mas que não é, que o diga a Irmã Lúcia que na opinião do Prof. João César das Neves é uma intelectual que os outros intelectuais, que o não são, não aceitam, por arrogância ou despeito, por não terem sido chamados à santidade, vá-se lá saber o motivo, o Professor também não explica lá muito bem, mas sabemos que tem razão, pois até já escreveu vários livros e foi consultor do Prof. Cavaco e não se cansa em meios bastante hostis de alertar para a salvação que hoje, tal como no meu tempo de criança, devia ser um objectivo primordial, mas as pessoas estão menos interessadas no que diz o Papa que nos livrou do comunismo do que na Televisão, que só diz mentiras, e no que afirmam os políticos que são todos uns corruptos e mentirosos que dizem coisas diferentes do que vem na santa Bíblia e, por isso, não podem dizer verdades, e só falam no bem estar material, como se o bem estar material interessasse alguma coisa, como se a alma não fosse o bem mais precioso que as pessoas têm, mas, enfim, estamos a chegar ao fim do mundo e as pessoas não acreditam, a mensagem de Fátima é bem explícita, mas as pessoas não a compreendem, nem sequer compreenderam Sua Santidade quando anunciou o terceiro segredo, mesmo os peregrinos estavam desatentos e não compreenderam, vá-se lá pedir aos outros que compreendam, para isso é preciso ter sido tocado pelo dom da fé que cada vez falta mais, bem pode esforçar-se Nosso Senhor, se os homens não quiserem, depois não digam que não foram avisados.

Publicada no JF em 14 de Fevereiro de 2003

9 de Setembro, 2004 Mariana de Oliveira

Legislação deve conter referências a Deus e à lei divina

O arcebispo de Pamplona e Bispo de Tudela, D. Fernando Sebastián, criticou a intenção do governo espanhol de governar com leis laicistas uma vez que isso «não tem fundamento teórico sério nem é verdadeiramente progressista, mas sim supõe um retrocesso a teses e formas já superadas» e «algumas leis podem discriminar os católicos». O arcebispo duvida da modernidade e da laicidade de tais leis e afirma que «tão moderna é a bomba atómica como a Sociedade de Nações». Segundo ele, seria melhor promulgar «leis inteligentes, práticas, justas, capazes de favorecer verdadeiramente o bem autêntico e geral dos espanhóis».

Na sua carta pastoral «O laicismo que vem», D. Fernando Sebastián defende que a elaboração de leis que não incluam referências a Deus, à lei divina, à fé de cidadãos ou que não considerem as exigências da moral natural ou dos valores absolutos, «seria tanto como anunciar leis discriminatórias, que se ajustam à mentalidade de uns e não leva em conta a mentalidade de outros, que favorecem os que não acreditam em Deus e ignora os que acreditam nele e querem viver de acordo com a sua vontade».

Com esta posição, o senhor arcebispo esquece-se de todos aqueles cidadãos que não partilham os mesmos valores morais do cristianismo, que têm diferentes religiões ou que não têm nenhumas e esquece-se também que o Direito, para o ser num Estado Democrático, não pode sofrer influências religiosas. Mas, parece, que tudo isto são pequenos pormenores que podem ser relegados para um segundo lugar quando está em causa a manutenção da influência da ICAR nos poderes executivo e legislativo.

9 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Emídio Guerreiro – um cidadão exemplar

A corroborar o artigo sobre «o epicurista Emídio Guerreiro» de Palmira F. da Silva, vale a pena transcrever dois parágrafos do artigo «A Capital», de Rogério Rodrigues:

«Emídio Guerreiro estava cansado, mas mesmo assim quis servir de guia aos seus convidados no Centro de Solidariedade Humana que leva o seu nome, pago por si e gerido pela Santa Casa da Miserisórdia a quem ele faz rasgados elogios.

Instalações quase semelhantes à de um hotel, onde o professor vive, depois de se despojar de todos o seus bens imobiliários (falta ainda vender o apartamento de Paris), não têm, contudo, à semelhança de outras casas como esta, crucifixos ou símbolos religiosos. Foram substituídos por bustos de homens que marcaram a evolução da Humanidade nas várias vertentes da sensibilidade e conhecimentos humanos. Assim, podemos ver, espalhados pela grande sala, estatuetas de Darwin, Vitor Hugo, Verdi, Mozart, Luís de Camões, Da Vinci, Descartes, Newton e Einstein».