Contrastes
No rescaldo do caso Borndiep e quando é prevísivel que o tema da Interrupção Voluntária da Gravidez volte a ser notícia de destaque com o julgamento de uma jovem de 21 anos dia 28 de Outubro, por ter recorrido à pílula abortiva quando tinha 17 anos- e denunciada por um enfermeiro do hospital onde foi atendida na sequência de uma IVG que deixou sequelas- a ICAR prepara o ambiente. Para além da realização das X Jornadas de Filosofia, Espiritualidade e Cultura Hospitaleira nos primeiros dias de Outubro próximo, subordinadas ao tema «Para uma Pastoral Evangelizadora», em que parte da evangelização se prende com «Pastoral e Bioética», na Agência Ecclesia é realçada a Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa: A Família, esperança da Igreja e do mundo.
Em que se pode ler «Também faz parte da missão essencial da família cristã na sociedade, defender e promover uma autêntica cultura da vida. Isso inclui a formação para a paternidade responsável, na fidelidade ao Magistério da Igreja. Inclui, também, a formação dos filhos na afectividade e na sexualidade, de modo que eles cheguem a alcançar uma recta consciência e possam agir de acordo, não com modas ou influências exteriores, mas com os valores aprendidos do Evangelho e dos ensinamentos da Igreja. Inclui, ainda, a defesa da vida em todas as circunstâncias, desde o nascimento até à morte.»
Para evitar que os adolescentes tenham acesso a uma educação sexual que previna o que aconteceu à jovem que vai agora a julgamento na dita pastoral é deixado um recado ao nosso governo, cada vez menos laico, especialmente se amanhã for ratificada a Concordata «Os pais, fiéis ao dever de acompanhar a formação integral dos filhos, devem procurar conhecer o tipo de educação sexual que a escola se propõe oferecer, bem como os objectivos que os programas de educação sexual pretendem atingir. Devem, também, ter o direito de recusar que a escola dê aos seus filhos uma educação sexual que vá contra os seus valores.»
De igual forma, considera a ICAR que a comunicação social deve estar sob os seus auspícios e que «Aos profissionais da comunicação social compete usar bem a responsabilidade que lhes é confiada e promover os valores que ajudem à consolidação da família como realidade indispensável ao bem da sociedade». Se tal não acontecer resta a censura porque é de facto censura o que se está subentendido no parágrafo que reza «Às autoridades públicas pede-se que, sem recorrer à censura, criem mecanismos de regulação para garantir que os meios de comunicação não ajam contra o bem da família.»
Esperando que nunca seja implementada a censura preconizada pela ICAR podemos entretanto apreciar artigos lúcidos sobre a IVG como o da historiadora Maria de Fátima Bonifácio, no Público de hoje, um artigo que vale a pena ler na íntegra e que termina:
«Acho muito bem que os católicos obedeçam à Igreja e adoptem “os métodos naturais”, e até acharia ainda mais coerente que ligassem o sexo exclusivamente à procriação. Nada nem ninguém os impede. Mas já me parece intolerável que num estado laico e numa sociedade democrática pretendam estabelecer preceitos de vida para quem não partilha da sua fé, recorrendo ainda por cima a um terrorismo ideológico que não apenas inibe qualquer debate racional e sereno sobre o assunto, como cria artificial e insidiosamente um ambiente social desfavorável ao alargamento do planeamento familiar e à educação sexual. Assimilar o aborto a um infanticídio equivale a bloquear toda a discussão e conduz à negação hipócrita de uma realidade a que toda a gente, no entanto, chama uma “chaga social”. Essa chaga suportam-na as mulheres, e dentro destas sofrem sobretudo, de longe, as mais pobres. Mas aqui parece que já não chega a consciência católica dos movimentos pró-vida.»
Artigo com que estou plenamente de acordo!