TPI Ruanda julga padre genocida
Pela primeira vez, o Tribunal Penal Internacional para o Ruanda julgará, a partir de amanhã, um responsável religioso católico acusado de ter participado activamente no genocídio de 1994. Este processo permitirá lançar luz sobre a actuação de alguns «homens de Deus» na chacina que arrasou aquele país africano, maioritariamente católico, quatro anos depois de uma visita de João Paulo II.
O padre Athanase Seromba, de etnia hutu, é acusado de ter preparado e supervisionado, juntamente com responsáveis locais, em Abril de 1994, a matança de mais de 2000 tutsis que se tinham refugiado na igreja da paróquia de Nyange. O religioso é também acusado de ter destruído parte do templo com uma escavadora cujo desabamento da estrutura sobre os fieis esteve na origem de um dos massacres da história do genocídio que causou 800 000 mortos entre os tutsis e hutus moderados, segundo a ONU.
Seromba abandonou o país antes da vitória dos rebeldes tutsis da Frente Patriótica, em Julho de 1994, e que acabou com o genocídio. O padre esteve primeiro refugiado na actual República Democrática do Congo, depois no Zaire e, finalmente, encontrou asilo em Florença onde lhe foi dada uma pequena paróquia na Toscana. Antes de se entregar, em 2002, à Justiça, a Itália recusou-se a aplicar um mandado de prisão internacional emitido pelo TPIR.
A Igreja Católica sempre insistiu na presunção de inocência dos seus membros e mostrou-se deveras reticente em prestar colaboração com as entidades judiciais dos diferentes países acusadores. No caso do padre ruandês, a alta hierarquia católica sempre o apoiou, afirmando que nada demonstra a sua culpabilidade.
Questionado acerca do apoio do Vaticano ao genocídio do Ruanda, o porta-voz do TPIR, Roland Amoussouga, disse que «não é um processo sobre o Vaticano, é um processo sobre o indivíduo» e reiterou que «é o indivíduo e não a instituição que está em causa» e que o «Vaticano nada tem a ver com este assunto».
A provarem-se os factos constantes na acusação, é grave ver indivíduos que fazem parte da ICAR envolvidos nestes trágicos acontecimentos e ver que as mensagens de tolerância que são propagadas pela Igreja são vazias de significado. Na verdade, raramente o tiveram e raramente foram seguidas por ela.