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Laicidade e ICAR em Espanha

Continua a saga do confronto entre a ICAR e o Governo espanhol. Despoletado pelas declarações de Zapatero de que «chegou a hora do respeito radical das opções sexuais de cada indivíduo, a hora de uma visão laica em que ninguém impõe as suas crenças, nem na escola nem na investigação, nem em nenhum âmbito da sociedade» e por o Primeiro Ministro espanhol ter considerado as teses da Igreja Católica em Espanha «irritantes, fora de tom e reaccionárias».

As primeiras reacções fizeram-se ouvir pela voz do arcebispo Primaz da Espanha, Antonio Cañizares que advertiu os espanhóis do perigo de um «laicismo ideológico» que, segundo o ilustre prelado, viola a liberdade religiosa e procura impedir que a Igreja torne públicas as suas crenças.

No seguimento do pedido da presidente do Congresso espanhol, Carme Chacón, para a Igreja não interferir nas instituições democráticas, o bispo Gea Escolano lamentou que o governo opine sobre a instituição eclesial e queira «amordaçá-la». Nomeadamente considerando que «a Igreja Católica não pode calar-se diante da degradação que o governo espanhol propõe para a legislação em questões como a legalização das uniões homossexuais ou as possibilidades de aborto legal».

Como foi referido no post da Mariana «Legislação deve conter referências a Deus e à lei divina» há pouco mais de uma semana o arcebispo de Pamplona e Bispo de Tudela, Fernando Sebastián, criticou a intenção do governo espanhol de governar com leis laicas uma vez que leis que não incluam referências a Deus, à lei divina, à fé de cidadãos ou que não considerem as exigências da moral natural ou dos valores absolutos (os católicos, claro, não há moral nem valores fora do catolicismo) são discriminatórias dos católicos.

No passado domingo, o presidente da Conferência Episcopal Espanhol, Cañizares, voltou à carga para denunciar «diversos ataques» por parte dos meios de comunicação social em Espanha que estão «dispostos a massacrá-la». Nomeadamente em relação à Carta da Congregação para a Doutrina da Fé (ex- Santo Ofício da Inquisição) sobre a colaboração entre o homem e a mulher na Igreja e no mundo. Em que é recordado que a mulher é um ser humano de segunda, sujeita ao domínio masculino, por vontade divina como consequência da dentadinha na maçã da pérfida Eva

Na sua homília, o Arcebispo identifica como proeminentes entre as causas do que considera a perseguição à ICAR a laicidade reinante e a secularização generalizada do mundo.

Como se vê, o Syllabus errorum o dicionário dos erros da época moderna enunciados por Pio IX que descrevia a democracia como um «princípio absurdo», a liberdade de opinião como «loucura e erro» e condenando especialmente o laicismo continua actual para a ICAR do século XXI. Claro que Pio IX foi o Papa que criou o dogma da infalibilidade papal…

Mas o que me choca mais é a intolerância, irracionalidade e autismo de uma Igreja que se acha no direito de impor a sua moral anacrónica como absoluta e se considera alvo de perseguição por a tal não a permitirem!

Nada impede os católicos de seguirem a sua moral, bem pelo contrário, a laicidade assegura que todos podem seguir as respectivas morais individuais desde que em obediência ao Direito laico que rege o Estado. Por que razão se arrogam os católicos ao direito de determinar as condutas privadas alheias exigindo transpor para o Direito os seus dogmas?

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