Loading

Mês: Julho 2004

27 de Julho, 2004 Ricardo Alves

Refutando Tomás de Aquino(4)

quinta (e última) «prova» de Tomás de Aquino para a existência de «Deus» é inspirada na «governança do mundo». Aquino afirma que coisas sem «inteligência», tais como os «corpos naturais», actuam para uma finalidade e que isto «é evidente do facto de actuarem sempre, ou quase sempre, da mesma maneira, para obterem o melhor resultado». Por conseguinte, segundo Aquino, não atingem a sua «finalidade» de forma fortuita, mas sim de acordo com um plano. Como «aquilo que não tem inteligência não pode dirigir-se para uma finalidade senão se for dirigido por um ser dotado de conhecimento e inteligência», então Aquino postula a existência de um ser que dirige as coisas da natureza, e chama-lhe «Deus».

Este argumento explora o temor humano de que o mundo não tenha finalidade. Na verdade, muitas pessoas agarram-se à sua crença numa divindade por medo da liberdade. Aceitar que o mundo não foi criado por uma divindade pode não ser difícil, mas aceitar que não há plano e que «por detrás» deste mundo existe apenas a indiferença da natureza, ou seja, que cabe-nos a nós encontrar uma finalidade para a vida, jamais é fácil.

Efectivamente, e ao contrário do que pensava Aquino, não há necessidade de um «Deus» para assegurar que cada pedra cai na vertical (ou para saber viver…). Para isso, bastam as leis da Física. E um ser que «planeasse» o movimento de todas as N partículas do universo teria inevitavelmente de manter a informação correspondente aos vectores posição e velocidade dessas N Partículas. Sendo o universo um espaço tridimensional, tal ser teria de armazenar 6N números. Ou seja, teria de ser tão extenso quanto o universo propriamente dito.

27 de Julho, 2004 André Esteves

Eu Gosto é do Verão!!

Uma pequena e singela homenagem, aos acampamentos de Verão, evangélicos ou fundamentalistas cristãos que ocupam essa juventude cristã, e que permitem aos seus pais cumprirem o mandamento do senhor: «Crescei e multiplicai-vos»…

Ao som dos «Fúria do Açucar», na sua música «Eu gosto é do Verão!»,

e 1, e 2, e 3!!

NA PRIMAVERA O DESEJO ANDA NO AR

NA PRIMAVERA A TV PÕE EVOLUÇÃO NO AR

NA PRIMAVERA, HÁ NOSSA SENHORA NO AR

E EU NÃO CONSIGO PARAR DE ORAR.

NO VERÃO OS DOMINGOS FICAM MAIORES

NO VERÃO TODOS LEMBRAM SEUS TEMORES

NO VERÃO JESUS BATE “RECORDS”

E NO CULTO, TEMOS OS CORPOS E SEUS SUORES

EU GOSTO É DO VERÃO, DE PASSEARMOS DE BÍBLIA NA MÃO

SALTARMOS E FALARMOS LÍNGUAS ESTRANHAS

DE ORAR E EXPULSAR O DIABO

E AO FIM DO DIA, ABENÇOADOS

A ESPERAR O FIM DO MUNDO

PATROCINADO POR UM AMERICANO QUALQUER

NO OUTONO VEMOS O AMERICANO PARTIR

NO OUTONO O DINHEIRO DA IGREJA FOI SUMIR

NO OUTONO O PASTOR AMEAÇA SE IR

E A CHUVA FAZ A IGREJA RUIR

NO INVERNO O NATAL É NO CANIL

NO INVERNO ANDO ENGANADO E FEBRIL

NO INVERNO É PASTORES DO BRASIL E NA SUÉCIA MASTURBAM-SE AOS MIL…

27 de Julho, 2004 Mariana de Oliveira

Libertina laicidade

Julián Barrio, arcebispo de Santiago de Compostela, defendeu que o casamento é «essencialmente heterossexual e base iniludível da família, cuja quebra supõe a quebra da sociedade tornando-a vulnerável a interesses que nada têm ver com o bem comum».

Na cerimónia, onde estiveram presentes os reis de Espanha e José Luis Rodríguez Zapatero, o arcebispo alertou para a tentação de pensar que se protegem plenamente os direitos do homem só quando nos vemos livres da lei divina. O senhor bispo ainda não se deve ter apercebido que, para termos um Direito que prossiga valores democráticos e uma justiça material, a religião não pode impregná-lo de uma suposta moral superior.

Barrio acrescentou: ainda que, quando se pense assim, «os direitos se vêem reduzidos a simples exigências pessoais e a falsas formas secularizadas de humanismo que semeiam confusão e debilidade moral, distorcendo o plano de deus sobre o amor e a fidelidade, sobre o respeito pela vida em todas as suas etapas naturais, sobre a vivência do tesouro da afectividade e sobre o matrimónio, essencialmente heterossexual». Pergunto: que deus? Que plano? Debilidade moral em não discriminar uniões homossexuais? O casamento, para o Estado, é um negócio jurídico onde duas declarações de vontade livres e esclarecidas convergem para um fim comum: o reconhecimento, pelo Direito, de uma comunhão de vida tendencialmente perpétua e seus efeitos patrimoniais e pessoais. Ora, a lei deve acompanhar a realidade e esta, por muito que ofenda os preceitos ICARianos, é multifacetada e engloba indivíduos que gostam de outros indivíduos do mesmo sexo. Se a Igreja não os quer reconhecer e não lhes quer administrar um sacramento, que regule o assunto para os seus fiéis mas abstenha-se de o fazer para o resto dos cidadãos.

Mas o discurso de alarvidades não fica por aqui. O bispo afirmou, em resposta à Oferenda Nacional realizada pelo rei, que o «homem não pode sobreviver sem a verdade e a força do cristianismo é a sua verdade interna». Assim, caros companheiros ateus e crentes não cristãos, estamos tramados pois não seguimos a VERDADE (a ler com voz cavernosa).

Quanto à fé, monsenhor de Santiago disse que esta é a «esperança segura do cristianismo, seu desafio e sua exigência quando o laicismo se apresenta como dogma público fundamental e a fé é simplesmente tolerada como opinião privada, ainda que deste modo não seja tolerada na sua verdadeira essência». A isto, acrescentou que a laicidade, «na sua versão extrema, transformou-se no laicismo com pretensão marginalizar o espaço da dimensão religiosa». Não se bastando com estas afirmações, disse também que a comunidade política e a Igreja são, entre si, «independentes, ainda que estejam ao serviço da vocação pessoal e social dos mesmos homens através de uma sã cooperação entre ambas».

Tendo isto em mente, o bispo sublinhou que a Igreja «pode sempre e em todo o lugar pregar a fé com verdadeira liberdade e emitir um juízo moral também sobre as coisas que afectam a ordem política quando o exijam os direitos fundamentais das pessoas ou a salvação das almas».

Resumindo, o Estado e a Igreja devem estar separados, mas esta deverá sempre impor os seus pontos de vista e a sua moral a todos os indivíduos, mesmo àqueles que professem outra fé ou não professem fé nenhuma. Para Julián Barrio, a laicidade deve estar em segundo plano e a fé em primeiro, independentemente de ser algo que pertence à esfera íntima de cada um. Se nada disto se passar, a pobre ICAR será discriminada e perseguida pelos mefistofélicos jacobinos e laicos em geral.

27 de Julho, 2004 Mariana de Oliveira

Festivais da divina concorrência

As férias de Verão estão mesmo à porta. As épocas de exames e de orais estão a acabar, as esplanadas estão cada vez mais cheias e paira no ar uma certa leveza que indicia a silly season.

O Verão é altura de festivais de música. Zambujeira do Mar, Paredes de Coura, Carviçais, Vilar de Mouros… milhares de jovens dirigem-se a esses locais para uns dias de boa música e de boa companhia.

Para não ficarem atrás destes festivais (notem bem) neo-pagãos, onde são adorados os neo-deuses Fino, Charro e Queca, a Comunidade Cristo de Betânea organiza o Festival da Figueira da Foz com o objectivo de oferecer um tempo em festa de inspiração cristã em contacto com a natureza aos jovens mais exigentes e a todas as pessoas que queiram passar. Estes jovens mais exigentes poderão assistir aos concertos de artistas de renome internacional como Melão, a banda Kayros MDM ou o padre Daniel.

O santo festival realiza-se entre 29 Julho e 1 de Agosto e consta de três dias de acampamento. Durante o dia, os abençoados e nada neo-pagãos poderão frequentar workshops opcionais de expressão artística – dança, teatro, pintura – e ainda de espiritualidade e aprofundamento vocacional. A par de actividades de meditação, escuta e aconselhamento espiritual, Eucaristia e adoração eucarística, os participantes aprenderão a reconhecer as músicas dos falsos deuses e como evangelizar os neo-pagãos através da guitarra acústica e de músicas adaptadas de originais ingleses cantadas à volta da fogueira acompanhadas por uma coreografia e um sorriso idiota.

26 de Julho, 2004 Carlos Esperança

O perigo que as orações escondem

As mesquitas localizadas na União Europeia tendem a envolver-se na criminalidade e no terrorismo. Só quem desconhece o proselitismo que devora as religiões se poderá surpreender. Os templos nunca foram apenas locais piedosos, destinados à oração e aos sacramentos, mas infra-estruturas de apoio político à propagação da fé.

A conspiração e o crime são actos de devoção para um crente embrutecido. O assassínio e a tortura não passam da aplicação da justiça divina aos infiéis.

Em Portugal, após o 25 de Abril, era frequente ver padres que durante a ditadura completavam os rendimentos com uma avença da PIDE, como delatores, a vociferarem nas homilias contra a democracia. A pregação é o instrumento ideal para fazer a síntese entre as bizarras afirmações dos livros sagrados e os interesses do clero.

A democracia nunca se impôs sem conspirações do clero e a excomunhão das Igrejas. Veja-se a influência nefasta da ICAR na Itália, Espanha, América Latina ou Irlanda, ainda hoje. Da Polónia à Croácia, de Portugal aos EUA, a ICAR intriga, ameaça, engana e persegue. E, quando necessário, solta os membros do Opus Dei.

Claro que a civilização islâmica, em franca decomposição, que recusa a modernidade, odeia a democracia, não abdica do carácter misógino e considera o Corão um código de conduta perfeito, é o húmus onde germina o ódio, a violência e o crime.

Os templos são antros de obscurantismo onde os fiéis se julgam convocados por Deus para o exercício de pias patifarias a troco do Paraíso. Os clérigos sôfregos de poder e honrarias não têm limitações éticas. Julgam poder responder apenas perante o Deus que fabricaram.

26 de Julho, 2004 Mariana de Oliveira

Jovens católicos cheios de esperança

J.P.2 tem esperança que a Peregrinação Europeia de Jovens, a realizar em Santiago de Compostela, seja uma oportunidade para renovar a proposta cristã na Europa.

O mote da peregrinação é Testemunhas de Cristo para uma Europa da esperança – esperança que o cristianismo, na pessoa colectiva da ICAR, continue em alta na sociedade europeia.

Milhares de jovens percorrerão a pé os antigos caminhos traçados pelos peregrinos através da história da Europa até chegar à cidade de Santiago de Compostela, lê-se na Agência Ecclesia. Devidamente acompanhados das suas violas, depois de entoarem aquelas lindas musiquinhas no melhor estilo grupo de jovens, no dia 7 de Agosto, celebrarão uma grande, grande Vigilia de Oração no Monte do Gozo (com o alto patrocínio do método do calendário, uma vez que a ICAR não aceitou o da Durex)e publicarão um documento sobre o seu compromisso na construção da Europa da Esperança.

25 de Julho, 2004 Mariana de Oliveira

Evangelhos Apócrifos

Há uns dias enviaram-me um link para uma página sobre os Evangelhos Apócrifos. Aí podemos recolher informações sobre este conjunto de textos que não fazem parte da bíblia.

De acordo com o site, os estudiosos dividem-se: uns entendem que são apenas a expressão da piedade popular sobre Jesus e terão sido escritos no séc. II da nossa era. Para eles, essas informações não acrescentam nada às contidas nos textos canónicos. Outros, pelo contrário, defendem que os evangelhos apócrifos, como o Evangelho de Tomé, poderiam aproximar mais a mensagem de J. Cristo dos seus fiéis uma vez que conservariam dados importantes sobre a memória popular daquela personagem e respectivo séquito.

O número de livros apócrifos é maior do que os contidos na bíblia canónica: 112, sendo 52 relativos ao Primeiro Testamento e 60 relativos ao Segundo.

Através das escrituras apócrifas, o leitor poderá ver uma nova faceta de muitos actores da religião cristã: Maria Madalena não será apenas a prostituta arrependida, mas também uma opositora de Pedro e Maria será uma discípula e apóstola de Jesus.

Independentemente da validade científica dos artigos que se podem encontrar na página de Frei Jacir de Freitas, é interessante lê-los, questioná-los e conhecer uma outra possível realidade.

25 de Julho, 2004 jvasco

Cosmologia

Einstein deu várias contribuições para a Física.

Uma das mais importantes foi a teoria da Relatividade Geral. Esta teoria aplica-se fundamentalmente no campo da cosmologia, onde é essencial para que compreendamos a história e funcionamento do Universo numa larga escala.

Algures na teoria Einstein chegou à conclusão de que, pelas suas contas, o Universo estaria a expandir-se a uma velocidade constante. Como lhe parecia “natural” que o Universo estivesse parado, Einstein criou um “força” que era dada por uma constante cosmológica, calculada por forma a que o Universo estivesse parado em equilíbrio.

Mais tarde, quando Hubble descobriu o “desvio para vermelho” e se constatou que o Universo estava de facto em expansão, da forma que estaria se a constante gravitacional não existisse, Einstein chamou à sua imposição da constante que havia calculado “o maior erro da sua carreira”.

É assim que a Física deve funcionar: os dados experimentais são soberanos. Aquilo que nos parece “natural” pode não o ser. A natureza não tem de corresponder aos nossos preconceitos e desejos.

Na altura em que se chegou à conclusão de que a constante gravitacional seria nula, os dados obtidos não eram tão abundantes, e eram relativamente imprecisos. Recentemente, com mais dados, mais capacidade de cálculo, maior precisão, sabe-se que o nosso Universo se expande aceleradamente: cada dia mais rápido. Desta forma existe uma constante gravitacional não nula: tem até sinal contrário ao que Einstein lhe deu.

A Cosmologia é um campo do conhecimento interessante, que ainda terá muito a dizer sobre os mistérios que nos fascinam a todos. Será que o derradeiro mistério da Criação está ao nosso alcance? É possível… mas não durante os próximos milénios, parece-me.

24 de Julho, 2004 Carlos Esperança

Chantagem episcopal em Espanha

O prestígio divino continua em queda desde o fim da ditadura. O apoio da ICAR à repressão franquista e a promoção do ditador como enviado da Providência, causou-lhe sérios embaraços, mas manteve-lhe intactos os privilégios.

Assim, enquanto Deus se transforma num mero instrumento para convencer as crianças a comer a sopa e a tirar o dedo do nariz, os numerosos bispos e cardeais que assolam a Espanha não prescindem da ameaça, intimidação e chantagem sobre o Governo, para perpetuarem o poder. Contam com um poderoso exército de padres distribuídos por paróquias e milhares de sequestrados, monges e freiras, embrutecidos pela clausura, prontos a serem largados em procissões de desagravo, a abanar terços e recitar ladainhas.

A anunciada legalização de uniões homossexuais pelo Governo legítimo de Espanha (a ICAR dá-se mal com a democracia) encontra uma feroz oposição no episcopado como já aqui foi referido pela Mariana.

O presidente do sindicato dos bispos [Conferência Episcopal Espanhola (CEE)], cardeal António Maria Rouco, declarou, em nome da CEE, «apóstatas» todas as pessoas que concordem com a legalização das uniões de facto entre homossexuais.

É a primeira vez, depois do concílio Vaticano II, que um dignitário da ICAR assume para um grupo social tal classificação, que expulsa os visados da ICAR.

É uma catástrofe para fregueses das missas, avençados da eucaristia, amantes das peregrinações e das procissões ou simples devotos das jaculatórias e outros divertimentos litúrgicos, incluindo os sacramentos.

Calcule-se o efeito devastador nas zonas rurais, beatas e analfabetas com a denúncia dos apóstatas, perante o eterno silêncio de Deus e o insuportável ruído do clero.

post scriptum – Sobre os crimes sexuais do clero católico em Espanha (só os crimes julgados e cujas sentenças transitaram em julgado) vale a pena ler «A Vida Sexual do Clero», de Pepe Rodríguez, Publicações Dom Quixote, 1.ª edição: Julho de 1996.

24 de Julho, 2004 Ricardo Alves

Preso por defender a liberdade de pensamento

O Supremo Tribunal de Teerão decidiu que Sayyed Hashem Aghajari continuará na prisão pelo crime de blasfémia, mas reduziu a sua pena a cinco anos de prisão. Deve notar-se que este professor de História iraniano fora condenado à morte por, durante um discurso público, se ter afirmado favorável a um «Islão reformado», moderno, em que os muçulmanos não seguissem os líderes religiosos «cegamente» e «como macacos», e em que cada um pudesse encontrar a sua própria interpretação dos textos «sagrados». Em suma, foi condenado por defender a liberdade de pensamento.

Embora Aghajari não se tenha afirmado ateu, o seu discurso de Junho de 2001 fora suficiente para que um juiz de província o condenasse à morte por apostasia em Novembro de 2002. Aghajari tem portanto estado preso desde 8 de Agosto de 2001, por vezes em regime de isolamento, e sob ameaça de execução. A sua pena foi agora reduzida a cinco anos de prisão (dois dos quais de pena suspensa). O advogado de Aghajari espera conseguir ainda mais uma redução da pena, após novo apelo. O caso Aghajari tem causado protestos consideráveis entre os estudantes iranianos reformistas. 




A liberdade de expressão é um direito humano fundamental, e inclui a possibilidade de criticar as religiões, até mesmo de as ridicularizar. Na privacidade dos nossos pensamentos, somos sempre livres. É na consciência dos indivíduos que os dogmas religiosos caem sempre pela primeira vez. Poder exprimir o nosso pensamento é um direito político, que os clericais sempre tentaram limitar, através de leis contra a blasfémia, e em nome de interditos religiosos por eles definidos.

As democracias afirmaram-se, na Europa, contra as igrejas. Os países muçulmanos necessitam de uma laicização radical e urgente. Homens como Aghajari são indispensáveis.