sobre o "Juramento Jesuíta"
Há dias escrevi neste blogue um artigo denominado “Juramento Jesuíta”. O artigo reproduzia o seguinte texto, alegadamente parte do antigo Juramento da ordem dos Jesuítas:
“Eu declaro e prometo que combaterei incansavelmente, secreta ou abertamente, sempre que tiver oportunidade, todos os hereges, protestantes e liberais, como é meu dever, para extirpá-los e exterminá-los da face da terra, e que não pouparei nem sexo nem idade nem condição, e que destruirei, enforcarei, ferverei, estriparei, esfolarei e enterrarei vivos estes infames hereges; rasgarei os estômagos e os ventres de suas mulheres e esmagarei a cabeça de suas crianças contra a parede, para aniquilar sua execrável raça”
Este texto está razoavelmente divulgado, e se seguirmos as suas origens iremos encontrá-lo nos Registos do Congresso dos E.U.A. bem como no romance de Charles Didier (1805-1864), Rome Souterraine. Além disso, Dr. Alberto Rivera, que desertou da ordem Jesuíta em 1967, confirmou que na cerimónia de iniciação o texto do juramento Jesuíta era o citado.
Na altura que coloquei o texto no meu artigo estava convencido que não haveria qualquer dúvida acerca da sua veracidade. Há, no entanto, dúvidas que rodeiam cada uma destas referências:
–Quanto aos registos do congresso dos EUA: nas eleições norte-americanas de 1912, onde para a Pensilvânia concorriam os dois candidatos Eugene C. Bonniwell (democrata) e Thomas S. Butler (republicano), o candidato Bonniwell perdeu, e objectou contra a eleição de Butler em representação do estado da Pensilvânia.
O Comité Eleitoral investigou as objecções de Bonniwell e produziu o relatório 1523 (House Report 1523). Este relatório foi submetido a 15 de Fevereiro de 1913, e a pedido do congressista Olmsted, foi incluído no Congressional Record. Entre outras objecções, o Eugene Bonniwell fazia menção a uma querela religiosa com os apoiantes de Thomas Butler. Eis os detalhes (no original em inglês):
«The West Chester Village Record is a local newspaper largely owned and controlled by T. L. Eyre, Republican boss of Chester County, and personal representative of Thomas S. Butler. The Chester Republican is a local paper largely owned and controlled by Senator William C. Sproul, a Republican boss, and personal representative of Thomas S. Butler in Delaware County. On August 15, 1912, the West Chester Village Record published the following editorial:
“The Hon. Thomas S. Butler, the Republican nominee for Congress, was born and reared in the Society of Friends, and is proud of his Quaker ancestry. His opponent, Eugene C. Bonniwell, is a Roman Catholic.”
On August 28, 1912, the Chester Republican reprinted this editorial. Coincident with the two said editorials messengers in the employ of supporters of Thomas S. Butler traversed the district, having in their possession and circulating a blasphemous and infamous libel, a copy of which is hereto attached, pretended to be an oath of the Knights of Columbus, of which body the contestant [Bonniwell] is a member. So revolting are the terms of this document and so nauseating its pledges that the injury it did not merely to the contestant but also to the Knights of Columbus and to Catholics in general can hardly be measured in terms.
I charge that the circulation of this oath and the publication of the two editorials herein referred to were part of a conspiracy . . . for the purpose of arousing religious rancour and of defeating the Democratic nominee. The Constitution of the United States prohibits any religious test for office. The organization supporting Thomas S. Butler created such a test, blazed bigotry in the hearts and minds of the ignorant, and slandered and vilified a great body of honourable men.
I file no complaint because of adverse election returns. The Democracy of Pennsylvania is inured to adversity. Nor is this complaint registered because of defeat resultant upon faith or race. In these things I own a just pride and do not protest if, because of either, political honours are to be denied men. But when a calumnious, viperish attack upon either faith or race is launched, injecting religious bigotry into the political affairs of this Nation, then this protest is made in the certain confidence that all patriotic men, mindful of the religious as well as the political liberty that the forefathers designed should be our heritage, will rise and strike down the beneficiary of such a treacherous and dastardly movement.
For myself I make no appeal to your honourable body that I may be seated… This I do maintain, that this man, receiving his election under these circumstances, adding the felonies of forged papers, perjured acknowledgements, and violated grand jury to the more wicked crime of religious slander, ought not to be tolerated in the House of Representatives.»
A este texto, Bonniwell anexou um panfleto chamado “Knights of Columbus Oath”. Este novo “juramento” é só uma versão expandida do “Juramento Jesuíta” que referi.
Quanto à obra e à confirmação: é difícil saber se Charles Didier se baseou nalguma coisa de fiável para escrever o famoso “juramento”. Quanto a Alberto Rivera, ele é um dissidente e há quem considere que as afirmações de um desertor não são credíveis.
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Pela minha parte, creio que as opiniões de um dissidende devem ser levadas em conta, pois muitos actos de certas instituições só foram conhecidos desta forma, embora posteriormente confirmados por outros meios. No entanto devo concordar que, ao contrário daquilo que eu pensava quando escrevi o artigo, podem restar dúvidas acerca da credibilidade da citação que lá coloquei. Como este espaço se pretende rigoroso e credível, senti que me devia retractar. Lamento ter de o fazer, e lamento o atraso com que o fiz. Espero que continuemos, apesar deste episódio, a merecer toda a confiança dos nossos leitores.
Devo também dirigir uma palavra de apreço a um leitor e comentador do nosso blogue com o qual todos temos tido muitas discussões. Foi ele que me alertou para as questões que refiro neste artigo, tendo sido da parte dele que soube de todo o episódio eleitoral que levou o Juramento aos anais dos Registos do Congresso. Bernardo Sanchez da Motta: muito obrigado.