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O kitsch religioso da semana

Esta semana vou vos levar ao maravilhoso mundo da propaganda evangélica americana em banda desenhada: As publicações Jack Chick.

É um dos clássicos da minha infância e que me ensinou muito jovem, o significado do que é a propaganda. O formato é simples. Apresenta-se uma situação humana. O leitor identifica-se com o pecador. O pecador descobre Jesus. Jesus salva-o. Os títulos constituem também parte do método: «Como ficar rico», «As abelhas e os passarinhos», «Macacos, mentiras e a Sra Galinha», atraem o leitor pela sua inocência ou gula.

O próprio nome, «Chick Publications» é uma armadilha linguística. «Chicks» em calão americano, traduz-se em Garinas, ou seja «Livros de míudas», pelo que alguns jovens pegam nas BD’s a pensar que se tratam de pornografia soft…

Descrito assim, parece ser uma fórmula demasiado simples. Mas a sua simplicidade é o seu encanto e arma.

Utilizando a estratégia habitual da citação bíblica, ilustrada com pequenos factos históricos e contemporâneos mal cozinhados, Jack Chick conseguiu criar um estilo que é eficaz e provocante. A iconografia e grafismo reflectem as suas origens protestantes, bem como seguem certas regras teológicas, devido à preocupação protestante em não usar imagens, para evitar a idolatria. (Há quem argumente que estas bandas desenhadas SÃO idolatria.) Por exemplo, seguindo a crença que ver a face de jeovah é uma acto de blasfémia e de morte, Chick inventou um clássico, a figura do deus sem face, que podemos ver na imagem à vossa direita.

Para os leitores: crianças, pobres e pessoas simples, que são o alvo deste género de publicações, a aparente facilidade de leitura da banda desenhada confunde-se com a credibilidade da mensagem, e a dúvida e o medo insinuam-se facilmente.

Jack Chick é um desenhador americano, que conseguiu, graças ao seu talento de condensar a mensagem e de desarmar o leitor através da imagem choque (veja os demónios a viverem nos homossexuais, os professores malignos e os jovens perdidos ), enriquecer enormemente. Com o sentido prático americano, o proselitismo tornou-se capitalista.

Embora o leitor final não pague pelo folheto, são as igrejas que convencidas da eficácia do seu produto, lhe compram milhões de bandas desenhadas. As vantagens são óbvias. O acto de converter torna-se automático.

Não há discussão e confronto de pontos de vista. Distribuem-se os folhetos na rua, no trabalho, à porta da igreja, sem que seja necessário pôr os fundamentos da fé à prova. É a acção missionária em escala industrial para o mercado de almas.

A encontrar em qualquer igreja evangélica.

Algumas sugestões de leitura:

Os católicos romanos são cristãos?

Porque está maria a chorar?

A cidade do pecado

As abelhas e os passarinhos (em inglês)

Macacos, mentiras e a Sra Galinha (em inglês)

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