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Mês: Abril 2004

21 de Abril, 2004 Carlos Esperança

O padre Gama – um dos mais experientes exorcistas católicos

Ontem, no noticiário da TVI (20H00), assisti a um exorcismo do P.e Humberto Gama, paramentado a rigor, após ter sido prevenido dos malefícios do demo e de como levou um jovem a cometer um crime de morte.

Eu julgava que o Demónio tinha acompanhado o lince da Malcata na extinção, mas fiquei a saber que ainda disputa com Deus o mesmo habitat na zona de Bragança. E é tal a sua força que só com sal, água e numerosos sinais da cruz foi possível desinfectar os locais onde ele se alojou.

O padre católico Humberto, com larga experiência em pelejas com o Maligno, prometeu aos telespectadores ir desafiá-lo à prisão onde se encontra a sua vítima – o jovem que induziu a assassinar a namorada.

Uma das provas mais concludentes da presença do Maligno era a escrita de um diário, que o padre se encarregou de benzer. Pensei no «Diário de uns ateus».

Para quem julgava que o Diabo tinha emigrado e que o Inferno tinha sido extinto, aqui fica o registo do «Correio da Manhã», jornal que tem investigado o denodo com que o Padre Humberto desempenha tão pia tarefa.

21 de Abril, 2004 André Esteves

O apelo cardinal…

D. José Policarpo, pediu ontem aos católicos para que tenham mais intervenção política “em todas as frentes onde se decida a construção de um Portugal democrático com qualidade”.

Na abertura da Assembleia Plenária da CEP, em Fátima, o cardeal afirmou que “através dos fiéis a Igreja tem de estar na política”. E nisto, acrescentou, “com a mesma clareza que assumimos que nós, os pastores, não nos imiscuímos na política partidária”.

Eu, pessoalmente, aprecio este amor à democracia por parte do Doutor Professor Excelência Reverendíssima, o Cardeal Patriarca. É caso para nos perguntarmos: Quando é que começam as eleições para o patriarcado e respectiva campanha eleitoral?

Posso imaginar o debate de ideias franco e aberto para com todos os católicos, que levará a uma eleição justa e representativa. Posso até imaginar alguns slogans de campanha!

Policarpo!! Amigo!!

Deus só está contigo!!!

Policarpo o benzido!

Vota nele, que é teu amigo!

Policarpo Patriarca!

Não é judeu, nem um anarca…

Quanto à participação “em todas as frentes onde se decida a construção de um Portugal democrático com qualidade” pode contar connosco!!! Espero que nos trate no mesmo espírito de tolerância, com que a sua alma mater estende convites ao PNR, nas tertúlias do CIARI.

Quanto ao “através dos fiéis a Igreja tem de estar na política” é uma grande verdade! Eles estão lá! Num esforço hercúleo, por todo o lado, na obra do senhor, que ninguém consegue ver ou reconhecer… Por que que será !?

21 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Pio IX, já beato, é um Bin Laden da ICAR

A fúria beatificadora/canonizadora do actual pontificado” é uma indústria respeitável que apenas tem levantado problemas quando são óbvios patifes os “servidores de Deus que inclui no rol. Pio IX é um caso extremo a que não faltarão devotos. Basta ler Eça de Queirós para saber da devoção de que gozava entre as camadas mais reaccionárias.

Pio IX foi o último papa detentor de poder temporal. Mandou fuzilar patriotas garibaldinos, construir em 1850 os muros do gueto de Roma, encorajou os padres a baptizarem em segredo crianças judias retiradas aos pais, condenou a separação da igreja do estado, excomungou os que negavam a soberania temporal dos papas, os liberais, os maçons, os socialistas e os comunistas, enfim, foi um reaccionário violento – mesmo para um papa católico.

É verdade que enriqueceu a igreja com o dogma da sua própria infalibilidade (e dos seus sucessores) e o da virgindade de Maria. Ninguém duvida que o milagre de ter curado, sem intervenção cirúrgica, uma carmelita que fracturara uma rótula, a troco de rezar duas novenas que lhe foram dedicadas, pesou na distinção de que foi alvo.

Mas, o anti-semitismo primário de quem chamava cães aos judeus, deixou marcas culturais que tiveram o seu epílogo no holocausto perpetrado por nazis e fascistas em que pereceram 6 milhões de judeus. É a memória dessa tragédia que torna obsceno o branqueamento que o papa actual pretendeu com tal beatificação.

Convém recordar a encíclica Sillabus errorum onde Pio IX afirmou que a Igreja era “inconciliável com o progresso e a civilização” – palavras proféticas que calaram fundo no coração de João Paulo II.

20 de Abril, 2004 André Esteves

4 meses… e há quem glorifique sofrimentos de fim de semana…

No Canal História, na televisão por cabo, está a rodar um conjunto de documentários sobre os campos de concentração nazis.

Vale a pena ver, para preservar a memória.

A fixar as palavras de Marcelino Bilbao, sobrevivente basco dos campos (Franco tinha um acordo de eliminação étnica e política com Hitler):

«Se alguém diz que Jesus Cristo sofreu o máximo que um homem poderia sofrer, é porque nunca viveu pelo menos 4 meses no campo de Mauthausen…»

O revisionismo avança e é curioso ver as crenças religiosas dos revisionistas (O quê? Julgavam que eram ateus? Nunca ouviram falar na Igreja do verdadeiro Israel? ou nas igrejas tradicionalistas católicas?)

O exemplo do cordeiro de deus empalidece em comparação. Mas também… Quem cria escalas absolutas de sofrimento justifica qualquer sofrimento que testemunhe ou inflija, como inferior. A partir daí, como castigo qualquer sofrimento é admissível e o horror, diminuto em relação ao acto de que se acusam os castigados… Quem matou o filho de deus? E quem seguia a justiça de deus?

Quando é que as pessoas começarão a pensar nas consequências do que acreditam?

Um homem morreu numa cruz para, segundo os seus seguidores, salvar a humanidade que nele crê…

Repetem-no à exaustão, sem qualquer lógica ou humanidade.

Uma ideia somente, sem pés nem cabeça…

Mas a mim assemelha-se a uma verdadeira blasfémia morrerem, sei-lá quantos milhões, para nos esquecermos deles e do que o homem é capaz por ideias, sem pés nem cabeça…

Recomendo:

Rua da Judiaria

19 de Abril, 2004 Carlos Esperança

O islão é uma religião de paz – a fructibus eorum cognocetis eos

Em 21-04-2003, no programa «Os prós e os contras» da RTP – 1, disse o Xeque David Munir que «do Islão ninguém sai porque todos estão satisfeitos», sem dizer o que acontece a quem apostate, se há hipótese de sobreviver ao desencanto, se fica seguro o canastro de quem se desinteressa do destino da alma e, sobretudo, se num país islâmico é possível uma discussão televisiva com pessoas sem religião ou de outras religiões.

Um religião que se considera com legitimidade para matar quem bebe vinho ou cerveja, quem recusa usar chador ou burka, quem vai ao cinema ou ouve música, quem canta ou vê televisão, quem usa mini-saia ou dança, quem usa calções curtos ou se barbeia, quem acredita em Jesus Cristo ou quem é ateu, quem não reza o suficiente ou não se vira na direcção certa, quem quebra o jejum ou quem faz amor, que permite a ignomínia da poligamia e renuncia ao direito civil para impor a Charia, que quer impor a fé de Maomé a todo o planeta, não é uma Igreja, é uma associação de malfeitores a que urge fazer um combate cultural.

A ICAR de Leão IX, Urbano II, Inocêncio II, Pio II, Júlio II ou Pio IX deixou uma pesada herança, mas o islão, neste crepúsculo de civilização falhada, não é mais recomendável e cultiva o mesmo ódio à democracia e à modernidade.

No islão, uma cultura decadente que considera o Corão a última palavra sobre justiça e a vida, há um Torquemada em cada mullah, um bispo medieval em cada ayatolla. Veja-se o que pensa Omar Bakri Mohammed, Líder do “Londonistão” e Teórico da Al-Qaeda na Europa, em entrevista à «Pública».

Ao pé dos muçulmanos os judeus ortodoxos, de chapéu e caracóis à Dama das Camélias, parecem pessoas civilizadas a quem se adivinha um rosto humano sob a barba.

Ao pé de Bin Laden e do mullah Omar o papa João Paulo II e o cardeal Joseph Ratzinger parecem filantropos.

Estados islâmicos, totalitários, dirigidos por clérigos, remetem-nos para as monarquias europeias de origem divina.

Pelos frutos se conhece a árvore ou, em latim, a fructibus eorum cognocetis eos.

19 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do Dia

Tenho de proclamar a minha incredulidade. Para mim não há nada de mais elevado que a ideia da inexistência de Deus. O Homem inventou Deus para poder viver sem se matar.

Fiodor Dostoievsky, in “O Idiota”

19 de Abril, 2004 Carlos Esperança

A santidade dos papas não passa de profissão e estado civil. A fé é sempre violenta

A violência não é um privilégio católico, acontece com o hinduísmo, o islão, o judaísmo e várias formas de protestantismo. Acontece sempre, e aumenta quando se agrava o proselitismo, mas a ICAR tem um passado assustar ao esforçar-se por exercer a soberania religiosa sobre a humanidade.

O anti-semitismo cristão não pode justificar-se com o sionismo agressivo de Sharon, vem do primeiro século e está longe de ser erradicado. Em Roma não foi a ICAR que libertou os judeus da opressão, foram os patriotas italianos que em 1870 derrotaram o papa e subtraíram a cidade à sua soberania.

«Os judeus não reconheceram Nosso Senhor e, portanto, não podemos reconhecer o povo judeu», é a doutrina da ICAR que entende não poder defender judeus sem se converterem primeiro. Haverá maior intolerância e vocação totalitária?

Já em 1593 os jesuítas tinham um critério racista para os seus membros. Com o decreto do «sangue puro» expulsaram todos os jesuítas que tinham ascendência judaica e proibiram a admissão de todos os cristãos que estivessem maculados de sangue judeu.

O primeiro assassinato em massa de judeus pelos cristãos data de 414, quando a população da Alexandria romana recém cristianizada exterminou a comunidade judaica da cidade.

Portugal expulsou os judeus em 1497 mas o ódio das catequistas portuguesas mantinha-se na década de quarenta do século passado.

Durante a primeira cruzada, em 1096, o ardor dos cristãos a chacinar judeus atingiu o auge na França setentrional e na Alemanha, cerca de 10 mil.

Lutero considerava-os «um pesado fardo» e «uma praga no meio das nossas terras».

Pio IX apelidava de cães os judeus, e queixava-se «temos hoje, infelizmente, demasiados desses cães e ouvimo-los ladrar em todas as ruas e andando por aí a incomodar as pessoas». Recusou-se a devolver a criança judia Edgardo Mortara, raptada aos seus pais por um inquisidor da Igreja que a baptizou, numa antecipação do que hoje fazem os mormons que baptizam judeus mortos para os resgatarem para a sua fé. A Inquisição exumava cadáveres para os purificar pelo fogo, os mormons para os libertar pelo baptismo. Os crimes de Pio IX não o tornaram inapto para a intercessão junto do seu deus, que lhe fez o milagre com que JP2 o elevou aos altares.

Pacelli, antes e depois de usar o pseudónimo de Pio XII foi cúmplice objectivo dos carrascos nazis e fascistas que ensanguentaram a Europa e envergonharam o mundo. Mas sobre esse período posso voltar em próximo artigo.

19 de Abril, 2004 André Esteves

Waco foi à 11 anos…

Há 11 anos, 80 pessoas morreram num ataque mal concebido pelo FBI, para pôr fim a um bloqueio de 51 dias. Ainda hoje não sabemos o que aconteceu. Nenhuma das parte parece interessada em procurar a verdade. Do lado governamental, existe a vontade de ocultar a incompetência, o abuso da força e talvez o uso irregular da lei. Do lado dos sobreviventes e adoradores, o desejo de criar um mito, buscar justiça contra a «Babilónia» e ver nos acontecimentos o desenrolar das profecias do Apocalipse e da teologia dos sete selos, com teoria da conspiração, racismo e individualismo americano em quantidades q.b. .

Algures nas profundezas da sociedade americana, as pregações, o êxtase da congregação, o sentido de irmandade e missão continuam e mantêm vivos os mitos desejados pelo inconsciente colectivo adventista.

Talvez nasça um novo cristianismo com David Koresh no topo do panteão.

E digo-vos isto, porque, eu… Eu já o fiz…

Já converti.

Já menti e enganei.

Podia ter sido ser deus, pela minha própria vontade e palavra.

Homem a homem, conversa a conversa, versículo em versículo, explorando o medo, usando o credível para tornar o impossível em realidade, na mente e desejo do interlocutor.

Amei demasiado a verdade e desejei demasiado conviver com iguais em verdadeira honestidade para ceder à tentação.

Hoje, sinto que só de uns ateus nascerá o verdadeiro «reino de deus» na terra.

Nunca subestimem o poder de uma bíblia, nas mãos de um homem que deseja poder.

18 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

17 de Abril. Foi há trinta anos.

Ano lectivo 1968/69. Portugal estava subjugado a um governo fascista que controlava o país através do terror de uma polícia política que perseguia opositores ao regime, da censura à imprensa e aos meios culturais, e do medo da guerra colonial.

A repressão manifesta-se nos órgãos associativos estudantis: a Associação Académica de Coimbra tinha à frente dos seus destinos uma Comissão Administrativa nomeada pelo Estado. Entre 1965 e 1968 não foi permitido aos estudantes a escolha dos seus corpos gerentes. É nesta conjuntura que os estudantes do ensino universitário de Coimbra se rebelam e defendem a liberdade, a autonomia e a democratização do Ensino Superior.

Em 1968, por iniciativa do Conselho de Republicas (CR) e de vários Dirigentes de Organismos Autónomos, foi criada uma Comissão de Pró-Eleições cujo objectivo era a promoção do o Acto Eleitoral, que só foi possível graças à realização de um abaixo assinado, entregue ao Reitor da Universidade de Coimbra, Andrade Gouveia.

Após vários contratempos, as eleições realizam-se no final do mês de Fevereiro. Compareceram a este acto eleitoral duas listas: a do Conselho de Rep?blicas (CR) e a do Movimento de Renovação e Reforma (MRR). O Conselho de Repúblicas ganha as eleições com cerca de 75% dos votos, avançando com uma linha crítica de contestação à Universidade e a todo o Regime em geral.

Um mês mais tarde a Direcção Geral da Associaçãoo Académica de Coimbra eleita é convidada para a cerimónia de inauguração do edifício das Matemáticas da Faculdade de Ciências. A Direcção Geral aceita o convite e afirma publicamente o propósito de interceder na cerimónia proferindo algumas palavras de descontentamento sobre a situação do ensino da Universidade de Coimbra e no resto do país.

Em conversa tida com o Magnifico Reitor expusemos conjuntamente (Associação Académica de Coimbra e a Junta de Delegados das Ciências), a nossa pretensão em nos fazermos ouvir. Foi-nos alegado:

1. O Magnífico Reitor ao discursar, representava a Universidade;

2. A possibilidade de um estudante falar vinha prejudicar as prescrições protocolares;

3. O senhor Presidente da República tinha de visitar o edifício, o que não lhe permitia um alargar da secção;

É verdadeiramente conscientes, dum dever irmos esgotar todas as vias para que os estudantes, estando presentes, possam participar na sessão inaugurativa
.

Na manhã do dia 17 de Abril de 1969, em frente ao Departamento de Matemática, podiam ler-se várias palavras de ordem: Impõe-nos o diálogo de silêncio, Intervenção das AEs na vida e reforma da Universidade, Ensino para todos, Estudantes no Governo da Universidade, Exigimos Diálogo, Democratização do Ensino.

No interior do edifício, na actual Sala 17 de Abril, o presidente da DG/AAC, Alberto Martins, acompanhado por Luís Lopes, presidente do TEUC, e Luciano Vilhena Pereira, presidente do CITAC, pede a palavra a Américo Tomás, Presidente da República, que lhe responde de forma inconclusiva.

A cerimónia termina abruptamente e toda a comitiva se retira protegida pelos agentes da Pide/DGS.

Nessa noite Alberto Martins é preso à porta da Associação Académica de Coimbra.

A notícia da prisão de Alberto Martins espalha-se rapidamente e os estudantes mobilizam-se em frente à esquadra onde se verificam alguns confrontos. Na manhã seguinte Alberto Martins é libertado. Durante a tarde do dia 18 há Assembleia Magna, resultando na conclusão da necessidade do aumento da participação activa dos estudantes na vida universitária. O Luto Académico é decretado a 22 de Abril.

O período do Luto Académico e da Greve às Aulas caracterizou-se pelo debate em torno dos problemas das faculdades, da Universidade e do país.

Posteriormente, após a Assembleia Magna do dia 28 Maio, nos jardins da AAC, com a participação de cerca de 6000 estudantes, começam novas formas de luta, como a Greve aos Exames (com uma adesão de 85%).

O 17 de Abril marcou o início da contestação estudantil e mais um passo que conduziu o país à Revolução de 25 de Abril.

Já agora, caro leitor, se quiser ler algo de superior qualidade e de alguém que viveu os acontecimentos da Crise Adémica, vá ao blogue Causa Nossa e procure os textos de Vital Moreira.