17 de Abril. Foi há trinta anos.
Ano lectivo 1968/69. Portugal estava subjugado a um governo fascista que controlava o país através do terror de uma polícia política que perseguia opositores ao regime, da censura à imprensa e aos meios culturais, e do medo da guerra colonial.
A repressão manifesta-se nos órgãos associativos estudantis: a Associação Académica de Coimbra tinha à frente dos seus destinos uma Comissão Administrativa nomeada pelo Estado. Entre 1965 e 1968 não foi permitido aos estudantes a escolha dos seus corpos gerentes. É nesta conjuntura que os estudantes do ensino universitário de Coimbra se rebelam e defendem a liberdade, a autonomia e a democratização do Ensino Superior.
Em 1968, por iniciativa do Conselho de Republicas (CR) e de vários Dirigentes de Organismos Autónomos, foi criada uma Comissão de Pró-Eleições cujo objectivo era a promoção do o Acto Eleitoral, que só foi possível graças à realização de um abaixo assinado, entregue ao Reitor da Universidade de Coimbra, Andrade Gouveia.
Após vários contratempos, as eleições realizam-se no final do mês de Fevereiro. Compareceram a este acto eleitoral duas listas: a do Conselho de Rep?blicas (CR) e a do Movimento de Renovação e Reforma (MRR). O Conselho de Repúblicas ganha as eleições com cerca de 75% dos votos, avançando com uma linha crítica de contestação à Universidade e a todo o Regime em geral.
Um mês mais tarde a Direcção Geral da Associaçãoo Académica de Coimbra eleita é convidada para a cerimónia de inauguração do edifício das Matemáticas da Faculdade de Ciências. A Direcção Geral aceita o convite e afirma publicamente o propósito de interceder na cerimónia proferindo algumas palavras de descontentamento sobre a situação do ensino da Universidade de Coimbra e no resto do país.
Em conversa tida com o Magnifico Reitor expusemos conjuntamente (Associação Académica de Coimbra e a Junta de Delegados das Ciências), a nossa pretensão em nos fazermos ouvir. Foi-nos alegado:
1. O Magnífico Reitor ao discursar, representava a Universidade;
2. A possibilidade de um estudante falar vinha prejudicar as prescrições protocolares;
3. O senhor Presidente da República tinha de visitar o edifício, o que não lhe permitia um alargar da secção;
É verdadeiramente conscientes, dum dever irmos esgotar todas as vias para que os estudantes, estando presentes, possam participar na sessão inaugurativa.
Na manhã do dia 17 de Abril de 1969, em frente ao Departamento de Matemática, podiam ler-se várias palavras de ordem: Impõe-nos o diálogo de silêncio, Intervenção das AEs na vida e reforma da Universidade, Ensino para todos, Estudantes no Governo da Universidade, Exigimos Diálogo, Democratização do Ensino.
No interior do edifício, na actual Sala 17 de Abril, o presidente da DG/AAC, Alberto Martins, acompanhado por Luís Lopes, presidente do TEUC, e Luciano Vilhena Pereira, presidente do CITAC, pede a palavra a Américo Tomás, Presidente da República, que lhe responde de forma inconclusiva.
A cerimónia termina abruptamente e toda a comitiva se retira protegida pelos agentes da Pide/DGS.
Nessa noite Alberto Martins é preso à porta da Associação Académica de Coimbra.
A notícia da prisão de Alberto Martins espalha-se rapidamente e os estudantes mobilizam-se em frente à esquadra onde se verificam alguns confrontos. Na manhã seguinte Alberto Martins é libertado. Durante a tarde do dia 18 há Assembleia Magna, resultando na conclusão da necessidade do aumento da participação activa dos estudantes na vida universitária. O Luto Académico é decretado a 22 de Abril.
O período do Luto Académico e da Greve às Aulas caracterizou-se pelo debate em torno dos problemas das faculdades, da Universidade e do país.
Posteriormente, após a Assembleia Magna do dia 28 Maio, nos jardins da AAC, com a participação de cerca de 6000 estudantes, começam novas formas de luta, como a Greve aos Exames (com uma adesão de 85%).
O 17 de Abril marcou o início da contestação estudantil e mais um passo que conduziu o país à Revolução de 25 de Abril.
Já agora, caro leitor, se quiser ler algo de superior qualidade e de alguém que viveu os acontecimentos da Crise Adémica, vá ao blogue Causa Nossa e procure os textos de Vital Moreira.