Um pobre de espírito, a ex-namorada, uma cartomante e uma bíblia.
Hoje, uma colega da faculdade contou-me uma divertida história que se passou com um amigo dela.
No início desta semana, o rapaz H estava a ter problemas com a namorada: o regresso do seu (dela) antigo amor fê-la pensar, as indecisões começaram a surgir, o tempo para partilhar com os dois pretendentes e com as aulas escasseava… Nada de novo na vida de um jovem adulto. H desesperava, o que devia fazer? Devia inventar estratagemas para saber o paradeiro da sua amada? Devia segui-la e apanhá-la em flagrante delito com o opositor? Devia armar-se em vítima e tentar conquistá-la através da compaixão? H, recorrendo a toda a sua maturidade, fez tudo isso. Mas antes… consultou uma cartomante que lhe disse que ele estava com problemas sentimentais, que havia um outro homem no caminho da sua felicidade e que, um dia, a rapariga iria ver a realidade: H era o homem ideal. Para além disso, também previu muito dinheiro e sorte na vida do jovem.
Tudo o que a senhora viu nas cartas tem uma explicação lógica: indicações que o paciente vai dando ao longo da consulta, comentários generalistas que se aplicam a todas as pessoas independentemente das especificidades das suas vidas e previsões favoráveis que todos gostam de ouvir.
Agora, a cereja no bolo. A irmã de H pegou numa bíblia e abriu-a… e a mão de deus levou-a a um trecho que falava em adultério, traição, sexo desregrado, homens falsos, mulheres devassas, enfim, o pitoresco a que já estamos habituados. Qual foi a interpretação dada ao incidente? Aquilo era um presságio de que o temível adversário era um homem mau e vil, que a rapariga era uma rameira e que, no fim, ela voltaria para o guardião da virtude e da felicidade!
Bem aventurados os pobres de espírito, já dizia o outro.