31 de Março, 2004 Mariana de Oliveira
Hora da Poesia
Um soneto de Antero de Quental.
DIVINA COMÉDIA
Erguendo os braços para o Céu distante
E apostrofando os deuses invisíveis,
Os homens clamam: – «Deuses impassíveis,
A quem serve o destino triunfante,
Porque é que nos criastes?! Incessante
Corre o tempo e só gera, inextinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,
Num turbilhão cruel e delirante…
Pois não era melhor na paz clemente
Do nada e do que ainda não existe,
Ter ficado a dormir eternamente?
Porque é que para a dor nos evocastes?»
Mas os deuses, com voz inda mais triste,
Dizem: – «Homens! porque é que nos criastes?!»