Crença, Racionalidade e Fé
Devo dizer que me irrita um pouco esta mania dos crentes de considerarem que os Ateus “têm a certeza” de que Deus não existe. Alguns tê-la-ão (existem até “12 provas da inexistência de Deus”, que é uma obra interessante), mas ser Ateu é NÃO ACREDITAR em Deus. E eu não acredito, tal como não acredito no Pai Natal. MAS não tenho a certeza que nenhum dos dois não exista, tal como não tenho a certeza que f=ma, tal como não tenho a certeza que as formigas não são na verdade um civilização avançada, ou que as bactérias tenham uma inteligência inferior à dos seres humanos. Se formos ao limite, eu não tenho a certeza de NADA.
Por isso eu acredito em coisas. Acredito que estou no Universo, acredito que f=ma, acredito que o Pai Natal não existe, etc… Qual é o critério? É a plausibilidade. Até agora todos os corpos cairam. O que é que é mais provável?
a)Existe uma lei que faz com que os corpos caiam
b)foi tudo uma gigantesca coincidência.
Eu acredito em a), sem ter (no limite) a certeza.
É possível que todas as leis físicas, todos os computadores, máquinas, técnicas agrícolas, etc… tenham funcionado por uma gigantesca coincidência. Posso imaginar que na verdade todos os corpos andam aleatoriamente, e a força da gravidade que nós pensávamos ver (bem como a electromagnética, a nuclear forte e fraca) foi tudo uma coincidência. Uma coincidência que fez com que eu (e toda a vida como a conhecemos) existisse. Isso é possível. Porque é que eu não acredito nisto?
PORQUE escolho acreditar na hipótese mais plausível. É só isso.
Tento descobrir a hipótese mais plausível a partir dos dados que tenho ao meu dispor, pensar sobre eles, e acreditar naquilo que é mais plausível.
A FÉ é o oposto: é acreditar em algo INDEPENDENTEMENTE do seu grau de plausibilidade.
Quando Jesus (alegadamente…) diz a Tomé que a crença deste não vale tanto como a dos outros que não necessitaram de o ver, ele está a defender a FÉ: as pessoas não deviam escolher aquilo em que acreditam com base nos indícios. Acreditar em Cristo depois de o ter visto é “fácil”, não é preciso “FÉ”.
Mas a racionalidade está contra isso. Nós devemos precisamente acreditar mais ou menos em algo EM FUNÇÃO do grau de plausibilidade.
E é isto que distingue os Ateus dos crentes. É este o cerne da diferença.