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Unidade dos cristãos contra quem?

Segundo o Jornal de Notícias começa hoje a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. E reproduz declarações de D. Manuel Felício, bispo auxiliar de Lisboa: «ao longo do ano que findou, a comunidade católica no nosso país continuou a viver a convicção de que o progresso nas relações ecuménicas com as outras confissões cristãs é imperativo de primeira importância para poder cumprir a sua missão evangelizadora no Mundo e particularmente na Europa».

Conhecendo-se o que entende a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) por «missão evangelizadora» seria motivo de franca preocupação se não ameaçasse apenas com uma arma de eficácia duvidosa e de efeitos colaterais suportáveis – a oração.

Mas vale a pena reflectir sobre a ICAR enquanto não tiver poder para voltar às armas que usou ao longo da sua história:

Ficámos a saber que se considera decepcionada pelo mau relacionamento entre o Patriarcado Ortodoxo de Moscovo e a Santa Sé, omitindo que João Paulo II (JP2) elevou a santos alguns facínoras que perseguiram a Igreja Ortodoxa, não hesitando em confiar-lhes os milagres necessários à promoção.

Quanto à Igreja Anglicana repudia-lhe o acesso das mulheres ao sacerdócio, contrário à sua política de feroz discriminação, e a sagração de um bispo assumidamente homossexual, em franco confronto com a o seu clero, sempre disposto a esconder a orientação sexual.

Mas para que quer a ICAR o «progresso nas relações ecuménicas com as outras confissões cristãs» se continua convencida da sua «missão evangelizadora» e não prescinde dela, continuando a recrutar clientes nos primeiros dias de vida através do baptismo?

Para além de continuar a disputar o mercado da fé com acções agressivas de marketing em que se inseriram mais de mil viagens de JP2, o que a ICAR pretende é uma aliança de circunstância para combater as religiões não cristãs e, sobretudo, os que reivindicam o direito de não ter religião.

A ICAR e o seu estado-maior no Vaticano são conhecidos pela hostilidade com que tratam as outras correntes cristãs e pela intolerância. O espírito da contra-reforma é uma tara genética sem quaisquer sinais de abrandamento. Nem JP2, agarrado ao lugar até ao último tremor, nem qualquer outro papa estão dispostos a renunciar à única monarquia electiva de poder absoluto que se mantém no planeta.

Obs.: A maldade da ICAR não pressupõe a bondade de qualquer outra igreja.

Perfil de Autor

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- Autor do livro «Pedras Soltas» e de diversos textos em jornais, revistas, brochuras e catálogos;

- Sócio N.º 1177 da Associação Portuguesa de Escritores

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